Covid-19, ódio e fake news no discurso presidencial: análise do conteúdo catalogado pela agência de checagem Aos fatos

 

Covid-19, hate and fake news in presidential speech: analysis of the content cataloged by the verification agency Aos fatos

Covid-19, odio y fake news en discurso presidencial: análisis del contenido catalogado por la agencia de verificación Aos fatos

 

e-ISSN: 1605 -4806

VOL 26 N° 113 enero - abril 2022 Monográfico pp. 236-244

Recibido 26-11-2021 Aprobado 28-04-2022

Carla Montuori Fernandes

Brasil

Universidade Paulista

Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7625-8070

carla.montuori@docente.unip.br

Carla Montuori Fernandes

Brasil

Universidade São Judas Tadeu

Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9341-6261

ivaoliver@gmail.com

Antonio Adami

Brasil

Universidade da Complutense de Madrid

Orcid: https://orcid.org/0000-0002-5524-0672

antonioadami@uol.com.br

 

Resumo

Este estudo analisa as fakes news presentes nos discursos do presidente Jair Bolsonaro (PL), com recorte de janeiro de 2019 a 9 de julho de 2020, e foco nas mensagens catalogadas pela fact-cheking “Aos fatos”.  Do total de 1.385 declarações, a Covid-19 foi tema em 523, sendo 233 classificadas como falsas e destacadas para análise. Metodologicamente faz-se uma análise de conteúdo das narrativas falsas do mandatário brasileiro, baseado nos conceitos de Bardin (2011). Na introdução, traz-se uma explanação sobre o recorte; no item 2 destaca-se os temas discurso de ódio, fake news e pós-verdade; no 3 discute-se as agências de checagem e a metodologia de análise das fake news e no item 4 discutimos o corpus da pesquisa. Finalmente, no item 5 traçamos as considerações finais. 

Palavras-chaves: Fake news, covid-19, Bolsonaro, fact-cheking.

 

Abstract

This study analyzes the fake news present in the speeches of President Jair Bolsonaro (PL), with a clipping from January 2019 to July 9, 2020, and focus on the messages cataloged by the fact-checking “Aos fatos”. Of the total of 1,385 statements, Covid-19 was the subject of 523, of which 233 were classified as false and highlighted for analysis. Methodologically, a content analysis of the false narratives of the Brazilian representative is carried out, based on the concepts of Bardin (2011). In the introduction, there is an explanation about the clipping; item 2 highlights the themes of hate speech, fake news and post-truth; in 3 we discuss the checking agencies and the methodology for analyzing fake news and in item 4 we discuss the research corpus. Finally, in item 5 we outline the final considerations.

Keywords: Fake news, covid-19, Bolsonaro, fact-checking.

 

Resumen

Este estudio analiza las fake news presentes en los discursos del presidente Jair Bolsonaro (PL), con un recorte de enero de 2019 al 9 de julio de 2020, centrándose en los mensajes catalogados por el fact-checking “Aos fatos”. Del total de 1.385 declaraciones, el Covid-19 fue objeto de 523, de las cuales 233 fueron clasificadas como falsas y destacadas para su análisis. Metodológicamente, se realiza un análisis de contenido de las falsas narrativas del representante brasileño, a partir de los conceptos de Bardin (2011). En la introducción, hay una explicación sobre el recorte; el ítem 2 destaca los temas de discurso de odio, noticias falsas y posverdad; en el 3 discutimos las agencias de verificación y la metodología para analizar noticias falsas y en el ítem 4 discutimos el corpus de investigación. Finalmente, en el punto 5 se esbozan las consideraciones finales.

Palabras clave: Fake news, covid-19, Bolsonaro, fact-checking.

 

1. Introdução

O governo do presidente Jair Bolsonaro teve início em janeiro de 2019. Desta data até o período final de recorte deste estudo, 9 de julho de 2020, as interações do presidente com a população aconteceram majoritariamente pelas redes sociais, com destaque para o Facebook e o Twitter. Nesse período, o capítulo da história política brasileira destinado às discussões sobre fake news ganhou um novo elemento: os conteúdos falsos promovido nos discursos presidenciais. A título de exemplificação e sem levar em conta a possibilidade do uso de robôs para impulsionar os números, somente no Facebook, onde acontecem todas às quintas-feiras as lives presidenciais, o número de seguidores do canal de Bolsonaro pode atingir um universo de 13.694.913 seguidores, um aumento de 85% se comparado a outubro de 2018, ano em que foi eleito. Como pauta, nos primeiros meses de governo as fake news versaram sobre os mais diversos temas e, a partir de março de 2020, elas se concentraram na pandemia da Covid-19, tema central do artigo. 

Nessa linha investigativa nos servirá de base o conteúdo da fact-chekingAos Fatos”, que possui um canal específico para análise do discurso presidencial veiculado nas redes sociais Twitter e YouTube; nas lives transmitidas semanalmente em sua fanpage no Facebook ou em entrevistas para grandes portais de notícias. Assim, recolheu-se as mensagens do período analisado levantadas pela fact-cheking “Aos fatos” e se chegou ao número de 1.385 declarações classificadas pela agência como informação alterada, contraditória, inconsistente ou falsa. Dessas declarações, 606 foram emitidas em 2019 e 779 no 1º semestre de 2020, com uma média de 30% a mais de mensagens nos seis meses de 2020, comparado com todo o ano 2019, conforme aponta o gráfico 1. Infere-se que o aumento nesses números no 1º semestre de 2020 esteja associado às mensagens sobre a pandemia da covid-19 e que são objetos de análise desse estudo.

Gráfico 1. Informações falsas nos discursos do presidente

Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da Agência de checagem “Aos fatos”, 9 jul.2020.

Do total de 1.385 declarações feitas pelo presidente, a Covid-19 foi tema em 523, sendo 290 classificadas como alterada, contraditória ou inconsistente e 233 classificadas como falsas. A partir do levantamento, o estudo tem como objetivo analisar as fakes news presentes nos discursos do presidente Bolsonaro (PL) sobre a Covid-19, no período de 1 de março até 9 de julho de 2020, com o intuito de responder quais narrativas predominaram nas declarações sobre a pandemia. O recorte se justifica em função do aumento expressivo de contaminados nos primeiros quatro meses de pandemia, levando o Brasil a ocupar segundo lugar no ranking mundial do número de mortos pelo vírus, atrás apenas dos Estados Unidos da América (Uol, 2020). Para além, Scott (1990), aponta que contextos marcados por guerras, epidemias, pandemias e motins são marcos sociais férteis para produção de conteúdo apócrifos, por se tratar de uma forma especular de apresentar explicações sobre acontecimentos recentes cujo sentido não é claro. A preocupação com a circulação de conteúdos falsos e que dificultassem o combate à disseminação do coronavírus esteve no radar da Organização Mundial da Saúde no início da pandemia. No artigo “Infodemic management: a key component of the COVID-19 global response” (OMS, 2020), a instituição aborda a expressão Infodemia – rápida expansão e consumo de informações variadas, sendo muitas delas falsas e nocivas ao trabalho de orientação necessário em uma crise sanitária (Borges, 2021).

No Brasil, a disseminação da informação em especial na fase inicial da doença teve sua raiz baseada em outras construções, opiniões e perspectivas desvinculadas do campo científico. Para identificar como foi construção dessa narrativa elegemos como metodologia a análise de conteúdo temática (Bardin, 2011).

2. Referencial teórico

2.1. Fake news, pós-verdade e gabinete do ódio

Para iniciar esta reflexão parte-se de importantes estudos presentes na literatura que tratam o tema basilar desta investigação: as fake news e sua intrínseca relação com as redes sociais e com a nova estrutura social que a sociedade moderna viu surgir, nomeada como pós-verdade. Diversos autores (D’Ancona, 2018; Keyes, 2018; Kakutani, 2018 e Santaella, 2019) concordam que a propagação de notícias falsas não é um fato novo na sociedade. A contribuição da contemporaneidade em relação a elas estaria relacionada à velocidade de disseminação, já que as tecnologias de comunicação se aprimoraram e dão mais requinte ao modo como se difundem as notícias falsas.

Buscando referências conceituais sobre o tema fake news, Recuero (2019) destaca que o termo está relacionado a algo dito ou omitido de modo intencional, com vistas a atingir determinados grupos ou indivíduos e criar um quadro de desinformação. Em consonância com a autora (2019), Christofoletti (2018) explica que há uma relação conceitual entre os termos manipulação informativa e fake news e destaca que elas “não são apenas notícias falsas, mas também plantadas, cultivadas e hipertrofiadas para que desorientem, confundam, enganem” (Christofoletti, 2018, p. 62), tendo nas redes sociais os instrumentos para mediação e alimentação de realidades alternativas. No que tange às redes sociais, destaca-se o fato de que as fake news se fizeram mais evidentes no Brasil no período eleitoral de 2018, devido, entre outras coisas, ao grande o número de brasileiros conectados às redes, já que, de acordo com o documento Policy Paper, da diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas à época o pais continha 16 milhões de usuários de internet e ocupava o 3º lugar no ranking de países com mais usuários acessando a internet e 6º entre os que usam o Twitter no mundo.1

Pautados pelas considerações acima, frisa-se que neste estudo o ponto mais forte da discussão se localiza na essência que as fake news carregam em causar desordem na opinião pública, enfraquecer o discurso de instituições seculares como a ciência e colocar no lugar delas verdades individuais, causando a manutenção da era intitulada como pós-verdade. 

Vale destacar, que este movimento de desconstrução de um modo de racionalidade teve seus precedentes na pós-modernidade, pois apesar de suas motivações originárias pautarem-se na crítica à noção de universalidade e à ideia de futuro calcada no progresso, favoreceram também, segundo Eagleton (1998), as bases para a crítica às “noções clássicas de verdade, razão, identidade e objetividade.” (Eagleton, 1998, p.7). Conjuntamente com este movimento, assistiu-se à consolidação da lógica neoliberal, pautada pela desconstrução da produção industrial no movimento de financeirização da economia, descolamento das localidades e investimento no indivíduo como gestor de si. Crítica à universalidade e à noção de futuro progressista, logo, a uma noção de razão e verdade alimentadas pela competitividade crescente, não solidária, amarradas pelo princípio do empreendedorismo como constituição do indivíduo, conformam o cenário de consolidação da pós-verdade.

Esse movimento de ceticismo sobre as verdades universais que carrega o nome de pós-verdade e que passou a ter notoriedade mundial em 2016, quando o renomado dicionário Oxford a elegeu como a palavra do ano, parece ser mais do que um modismo, já que reconfigura as lógicas sociais e práticas políticas, tendo como maior exemplo a eleição de presidentes adeptos e praticantes desse modelo de disseminação em massa, como Donald Trump, em 2016 nos EUA e Jair Bolsonaro, em 2018 no Brasil. Vê-se que esta lógica está a serviço de perspectivas políticas próprias, afetando diretamente os projetos propostos e políticas públicas em curso. No Brasil, por exemplo, desde a campanha eleitoral, o então candidato à presidência Bolsonaro, à época filiado ao Partido Social Liberal (PSL), construiu sua lógica discursiva calcada em ideias antagônicas ao projeto político desenvolvido pelos governos do PT e a temas como respeito à diversidade e ao meio ambiente, promoção de igualdade social, entre outros de apelo humanitários com destaque no Brasil e no mundo e que foram sendo negligenciados no desenvolvimento do modelo de seu governo. Ao negar a validade de determinados projetos, ele deu lugar a um modelo de governo focado no autoritarismo e nos ideais neoliberais, que por vezes despreza as minorias e as camadas mais vulneráveis da sociedade, em prol de um movimento de privatização e financeirização da economia (Dardot e Laval, 2016, p.8). 

O que representou o fortalecimento de Bolsonaro e a sua chegada à Presidência inclui uma série de variantes. São episódios da cena política nacional que estão atrelados ao recrudescimento da direita e, mais notadamente, ao endurecimento radical do seu discurso, supostamente orientado por um gabinete do ódio, que atua nos bastidores do governo. Segundo investigações comandadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o Gabinete do ódio é o nome dado para o grupo localizado no 3º andar do Palácio do Planalto que produz relatórios diários para a presidência sobre os acontecimentos do Brasil e do mundo, coordena as redes sociais do Planalto e todo o planejamento de campanhas digitais do governo federal. Com forte influência sob a opinião do presidente, o gabinete é liderado pelo vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, e por um grupo de assessores especiais. Atua de modo independente da Secretaria de Comunicação do governo e em denúncias da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo no Congresso, foi acusado de também por disseminar notícias falsas, por meio de perfis e contas falsas nas redes sociais como o Whatsapp, Facebook, Twitter, Instagram entre outras, recebendo inclusive investimento de empresas pró Bolsonaro para tais atos.

Para além do Gabinete do ódio, segundo aponta Avritzer (2020), Bolsonaro construiu uma ampla rede de adversários nas redes sociais, primeiro enquanto candidato e posteriormente como presidente. A base bolsonarista de apoio ao presidente se constitui a partir de três frentes: um grupo que remete ao gabinete do ódio, que deslancha processos de ratificação acrítica do seu clã, o segundo formado por uma vasta rede de sites e perfis de direita que amplificam a defesa do mandatário e o terceiro formado por um círculo diversificado de artistas e empresários influentes. O gabinete do ódio, segundo aponta Borges (2020), faz uso das dúvidas e distorce imagens com fins políticos específicos para reforçar a crença de que quem está contra o presidente produz o mal e não merece credibilidade. Com as mudanças na forma de construir e operar discursosespecialmente políticos, a desinformação, ganhou a atenção de pesquisadores e de organizações vinculadas a imprensa.

Nesse tumultuado cenário criado pelas fake news no atual ambiente em que as narrativas institucionais são factíveis de contestação, tiveram lugar mundo afora a criação de diversas agências de checagem, ou fact-cheking, que surgiram como resultado da tentativa do jornalismo tradicional em manter-se com a legitimidade dos discursos que circulam nos meios de comunicação. Das agências de checagem fundadas no Brasil, algumas delas criadas por grandes grupos de comunicação, se destaca a agência “Aos fatos”, que servirá de base para captação do corpus de análise dessa pesquisa e que desde 2017 possui o selo da International Fact-cheking Network (IFCN), entidade sediada no Instituto Poynter, nos Estados Unidos, com a finalidade de garantir a isenção e transparência na análise dos conteúdos difundidos para provocar desinformação, tema que será tratado no próximo tópico.  

3. Metodologia de análise das Fake news no discurso presidencial 

De acordo com o centro de pesquisa em jornalismo na Sanford School of Public Policy da Duke University, que realiza um mapeamento dos sites de agências de checagem no mundo, o Duke Reporters’ Lab, em junho de 2019 existiam 290 fact-cheking ativas e 99 inativas espalhadas por 83 países, número quatro vezes maior do que o registrado em 2014, aumento sobretudo em função da pandemia da covid-19.

Assim, as mensagens falsas condensadas pela Aos fatos serão analisadas a partir da metodologia da análise do conteúdo (Bardin, 2011), que propõe três fases de análise: pré-análise, exploração do material e interpretação dos resultados. A pré-análise possui três missões: a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final. Seguindo o passo-a-passo da metodologia e passada a fase da pré-análise do material coletado, entrou-se na exploração do conteúdo, “que consiste essencialmente em operações de codificação, decomposição ou enumeração, em função de regras previamente formuladas” (Bardin, 2011, p. 127). Nessa etapa, verificou-se que o total das 1.385 mensagens estava organizado em 27 categorias, algumas vezes com uma mesma mensagem constando em mais de uma categoria. Constatou-se também que as mensagens recebiam um selo que as classifica como notícia alterada, notícia contraditória, notícia inconsistente ou notícia falsa. Assim, se escolheu a categoria coronavírus, que reuniu 523 mensagens, e se verificou quantas delas haviam recebido o selo de notícia falsa. Chegou-se ao total de 233 mensagens. Na terceira etapa deste estudo será feita a análise dessas mensagens.

3.1. Análise do corpus de pesquisa: covid-19 e o reforço da máxima bolsonarista 

Embora o recorte desta pesquisa se concentre no período de junho de 2020, num cenário que tem como pano de fundo os primeiros meses e o crescimento avassalador da pandemia da covid no mundo, vale fazer uma digressão para apresentar os dados atuais sobre a pandemia. Para registro histórico, data-se que o primeiro caso da pandemia pelo novo coronavírus, Sars-CoV-2, foi identificado em Wuhan, na China, no dia 31 de dezembro de 2019. Já no Brasil, o vírus foi detectado oficialmente em 26 de fevereiro de 2020, sendo que, em julho do mesmo ano, o país passou a ocupar o segundo lugar no número de mortos e contaminados, com elevada incidência nas áreas periféricas do país, após atingir o ápice nas capitais e grandes cidades, deixando um total de 50 mil mortos. Atualmente, no momento da escrita deste artigo, janeiro de 2022, a pandemia da covid-19 traz como marcas 622.647 mortes e 23.757.741 casos conhecidos, números levantados nas secretarias de saúde dos estados brasileiros pelo consórcio de imprensa (Abraji, 2020), criado junho de 2020 em uma parceria formada pelos maiores portais de notícias e jornais do Brasil como resposta à restrição imposta pelo governo de Bolsonaro de limitar o acesso e inviabilizar a coleta dos dados sobre a pandemia no pais. Outro complicador à coleta oficial de dados sobre a pandemia no país está sendo o apagão de dados sobre a covid, que teve início em dezembro de 2021, em decorrência de um ataque hacker, e deixou de fornecer o panorama exato sobre a evolução dos casos, internações, mortes, vacinação e do desenvolvimento da nova cepa da covid, a variante ômicron (G1, 2021).

Ao voltar para o início da pandemia e para o período selecionado para análise nesse estudo, ve-se que apesar de inúmeros apelos para que os dirigentes das nações adotassem práticas para evitar a disseminação da doença, não foi o que aconteceu no país. As declarações, medidas contraditórias, aparições públicas que causaram aglomerações quando órgãos de saúde pregavam a importância do isolamento social, não só contrariaram a lógica na maioria dos países mundo afora, mas principalmente deram mostra de quais temas são importantes na pauta do governo Bolsonaro. 

 No que tange as fake news que circularam largamente pelas diversas redes sociais, um estudo sobre a desinformação no YouTube, produzido por pesquisadores do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa) da USP, do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (LAUT) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), apontou que uma rede formada por religiosos atingiu, em 47 dias, 11 milhões de visualizações só em vídeos com sermões que minimizavam a pandemia da covid-19, pregações de teorias conspiratórias e de desqualificação da ciência2. Completam os dados um estudo conduzido pelas pesquisadoras Claudia Galhardi e Maria Cecília de Souza Minayo, da Escola Nacional de Saúde Pública (Fiocruz), no qual evidenciam, entre os temas das fake news desse período, discussões sobre métodos caseiros para prevenir o contágio ou para curar a doença. Tiveram lugar também teorias conspiratórias que afirmavam que a doença era uma estratégia política; que o novo coronavírus foi criado em laboratório; além do incentivo às pessoas para tomarem cloroquina e abandonarem o uso de máscaras e as medidas de isolamento social (Fiocruz, 2020).

Em sintonia a essas fake news que circularam e dominaram o senso comum, as 233 fake news encontradas no discurso presidencial no período de recorte desta pesquisa se voltaram a questões como a adoção ou não do isolamento social, problemas econômicos decorrentes da covid-19, indicação de terapias e remédios para curar o vírus e também a quem pertencia a responsabilidade de atuar frente às questões da pandemia no Brasil. 

Após a análise de caráter exploratório que permitiu fazer inferências, passou-se à fase da organização do conteúdo para se chegar às interpretações finais desse estudo, visando uma imagem mais precisa do campo de atuação discursiva de Bolsonaro. Assim, definiu-se três categorias, conforme descrito na Tabela 1. O livro de código das categorias está disponível no endereço: https://github.com/Carlla26/Covid-19-dio-e-fake-news-no-discurso-presidencial.

Tabela 1 – Categorização do conteúdo sobre a covid -19 no discurso presidencial

Categoria

Total de mensagens

Medidas Restritivas

92

A covid-19

75

Economia

66

Total

233 postagens 

Fonte: elaborada pelos autores a partir dos dados da fact-cheking “Aos fatos”.

Após categorizar as mensagens, a primeira consideração relacionada às postagens feitas por Bolsonaro trata do lugar de circulação/nascimento destas mensagens, visto que a filiação a este ou aquele perfil nas redes sociais criam as chamadas bolhas digitais, que ancoradas nas lógicas dos algoritmos colocam o seguidor em sintonia com as mensagens que confirmam suas visões de mundo. Bounegru et al., 2017 apontam que a análise dessas notícias falsas deve ser considerada “não apenas em termos da forma ou conteúdo da mensagem, mas também em termos de infraestruturas mediadoras, plataformas e culturas participativas que facilitam a sua circulação” (p.8, tradução das autoras, 2018). Entende-se com isso que o Brasil é um celeiro fértil para a disseminação de fake news, visto o volume de usuários conectados à rede no país, já que somos 152 milhões de usuários de internet, conforme revelou o resultado da pesquisa TIC Domicílios 20203. Isto posto, os autores (2017) explicam que “para se tornar fake news as ‘notícias’ precisam mobilizar um grande número de público – incluindo testemunhas, aliados, reações e partilhas, assim como oponentes para contestar, sinalizar e desmenti-los” (Bounegru et al., 2017 cit. por Delmazo e Valente, 2018). 

Assim, passado o intento de compor o caminho que perfaz as fake news desde a sua criação como uma narrativa aparentemente despretensiosa e de baixa qualidade até entrarem na disputa e, na maioria das vezes aceitação, como as verdades absolutas de certos grupos, analisa-se agora o discurso presidencial a partir da divisão das 233 fake news nas três categorias criadas.

4. Discussão - As mentiras e as verdades nas mensagens categorizadas

A seu modo, as mensagens no discurso presidencial relacionadas ao tema covid-19 dialogaram com verdades e com mentiras no complexo ambiente até aqui apresentado. Dialogaram com verdades, se levarmos em conta o fato de elas estarem em sintonia com as bolhas que se formaram em torno do personagem Bolsonaro; e com mentiras, se considerarmos que a lógica discursiva que se fez ver contrariava - e contraria -  verdades apresentadas, analisadas e provadas por pesquisadores em suas investigações acerca da pandemia da covid-19 ou até mesmo as evidências surgidas no desenrolar da pandemia, como por exemplo os resultados colhidos pelos países que adotaram medidas restritivas como o isolamento social ou lockdown, em contraponto aos países nos quais essas medidas foram negligenciadas.  Também, durante a organização do quadro geral das mensagens em categorias percebeu-se haver uma intrínseca relação entre elas e por isso se justifica a escolha pelo início das análises com a categoria “economia”, pois como se demonstrará no decorrer das inferências as demais categorias também se referem a economia, ainda que de modo indireto.

4.1. “Economia”: o coração do governo Bolsonaro acima de todos 

A gestão econômica do governo Bolsonaro adota um modelo de governo com ideologia ultradireita defendendo, entre outras coisas,  o compromisso mínimo do Estado com a sociedade; reformas para a redução de gastos públicos; sucateamento do sistema público para justificar as privatizações e a minimização ou ausência de projetos voltados às questões sociais, pontos que, quase sempre, lançam a sociedade à própria sorte e mostram que as condições de sobrevivência deve ser conquistada com seus méritos, por meio do empreendedorismo e do movimento “homem empresarial” (Dardot e Laval, 2018). Entretanto, ao se instaurar uma crise sanitária como a pandemia da covid-19, essas máximas perdem o sentido, já que por questões adversas a sociedade se vê impedida de “conquistar” as condições básicas de sobrevivência e o Estado passa a ser chamado para atuar na promoção da saúde e na disponibilização de recursos à subsistência da sociedade, mesmo que isso contrarie a lógica neoliberal vigente, como se fez ver nos embates travados por Bolsonaro com os poderes legislativo e judiciário, além dos partidos com ideologias sociais.  Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em maio de 2020, o pesquisador Ortellado destacou que durante toda a crise provocada pela pandemia da covid-19 a política econômica do ministro Paulo Guedes soou como uma expressão de desatino, visto os atrasos no desembolso de auxílio aos trabalhadores de baixa renda, à morosidade na definição de medidas de apoio a pequenas empresas, além da minimização da gravidade da pandemia para forçar a retomada rápida da economia quando o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) sinalizavam que o controle da pandemia era pré-requisito para salvar a economia, e não ao contrário como fez crer o Ministro (Uol, 2020).

Assim, no que tange as mensagens que abordam essa temática, as 66 fake news colocadas em circulação via discursos presidencial evidenciam a opinião de Bolsonaro em contraste com as estratégias propostas pelo FMI e OMS e em sintonia com o seu ministro da Economia.   

Do cômputo geral de mensagens, chama a atenção a declaração de Bolsonaro de que a economia estaria piorando a partir da pandemia. Segundo ele o país estava com uma economia forte no final de 2019. “Estávamos voando no final do último trimestre. Tudo estava indo muito bem”, destacou Bolsonaro durante live no Facebook em abril de 2020. Todavia, ainda não existia à época da declaração dados fechados sobre os resultados econômicos do país e as pesquisas setoriais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Banco Central mostravam desaceleração da atividade antes da pandemia. 

Outro aspecto no discurso de Bolsonaro que reverberou sua opção preferencial pela economia em detrimento à preservação de vidas situa-se nas mensagens sobre o tema desabastecimento do comércio. Na lógica apresentada pelo presidente era o isolamento social e a ausência das pessoas nos postos de trabalho que estavam causando o desabastecimento em supermercados e em outros pontos do comércio. Para defender essa ideia, em uma postagem feita no Twitter, Bolsonaro anexou um vídeo no qual um homem desconhecido mostrava imagens da Central de Abastecimento de Contagem (MG) sem produtos para a comercialização. Segundo nota do presidente, a falta de produtos se dava em função das medidas de isolamento social adotadas na cidade, entretanto a Associação de Comerciantes da Ceasa de Minas Gerais informou por meio de comunicado em seu site que a notícia era uma informação falsa e que o vídeo teria sido gravado no horário em que a central estava fechado para limpeza. Logo após a repercussão negativa da fake news o vídeo foi excluído do Twitter presidencial.  

O próximo bloco de fake news analisadas aponta para as mensagens falsas sobre os valores reais destinados para os Estados aparelharem o Sistema Único de Saúde (SUS) ou para cobrirem os prejuízos financeiros decorrentes da não arrecadação de tributos.  Vem ao encontro disso o que se deflagrou com o auxílio emergencial, visto que o valor proposto por Bolsonaro era de R$ 200 e não R$600 como ficou definido após crítica social, pressão de partidos políticos como o PT e PSOL; do relator do projeto de lei, Marcelo Aro (PP-MG); e pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ainda que o mérito não lhe pertença, o auxílio emergencial deu visibilidade e popularidade ao governo Bolsonaro, já que em pesquisa publicada dia 14 de agosto de 2020 o DataFolha destacou um crescimento de 32% para 37% nos índices de sua aprovação, melhor taxa desde o início de seu mandato, recuo de 44% para 34% no índice referente à reprovação e aumento de 23% para 27% no número de pessoas que consideram o governo regular. Tudo, de acordo com o Instituto, ancorado na beneficie do auxílio emergencial (Datafolha, 2020).

4.2 “Medidas restritivas”: quem vive e quem morre no discurso presidencial

Nas 92 mensagens enquadradas na categoria “medidas restritivas”, nota-se que o discurso presidencial se ateve a três pontos principais, sendo o primeiro deles focado na condenação do isolamento social, indicado como medida  para conter o avanço da doença no país; o segundo fazendo referências à ideia de que ele não tinha autonomia para decidir a condução da pandemia nos estados e municípios e o terceiro relacionando-se à convocação – seguida de negação – de aglomerações em apoio ao seu governo e que soaram como uma afronta, ante a urgência de conter a crise sanitária mundial.

O primeiro aspecto encontrado nas mensagens presidenciais, o de condenar as medidas de isolamento social – quarentena ou lockdown - revelou muito da característica do modelo bolsonarista de flertar com a pós-verdade e com a lógica de um governo calcado nos ideais da ultradireita. Flertou com a lógica da pós-verdade quando emitiu notícias enviesadas para fazer valer a sua verdade e que é o ponto principal desse estudo, mas também flertou com a lógica neoliberal como a única verdade viável na condução de um país ao deixar evidente a opção preferencial pela saúde das grandes empresas e a adesão ao estado mínimo no que se refere às questões sociais. Seguindo a lógica da necropolítica (Mbembe,2018), ao oferecer tratamento diferenciado às vítimas da pandemia desvelou-se a base normativa do Estado para decidir quem vive e quem morre, comprovado inclusive verbalmente, visto na live do Facebook do dia 31 de março de 2020 o presidente deixou claro em seu discurso que “esse pessoal mais pobre, que vive da informalidade não pode ficar sem trabalhar senão morre de fome”, fato que não parece denotar uma preocupação do governo com o bem-estar dos mais pobres, visto a demora e os entraves para liberação do auxílio emergencial aos mais pobres, incluindo o acesso, a proposta de um valor capaz de oferecer ao menos o mínimo de qualidade de vida à população mais vulnerável à crise econômica surgida como decorrência da pandemia, a interrupção e retomada do programa (Nexo, 2020).

Voltando às questões de linhas gerais das mensagens falsas para validar o discurso presidencial acerca da condenação das medidas restritivas, verifica-se que em diversas ocorrências há alteração nas ideias emitidas por órgãos como a OMS. “Meus parabéns: OMS se associa a Jair Bolsonaro”, publicou em seu Twitter para destacar que a OMS e seu diretor-geral, Tedros Ghebreyesus, também eram contrários à adoção de isolamento social para os mais pobres, quando na verdade o diretor emitiu um alerta aos governos para que buscassem soluções para diminuir os impactos sociais e econômicos do confinamento sobre a população mais pobre.

O segundo aspecto apontado no início desta análise versa sobre a ideia apresentada pelo presidente de que ele não tinha autonomia para decidir a condução da pandemia nos estados e municípios, o que na verdade se constitui em uma desinformação já que de acordo com a Constituição Federal a definição de medidas na área da saúde do país é de igual responsabilidade entre o governo federal, estados e municípios.  Entende-se que, nesse caso, o que houve foi um desencontro de interesses, já que desde o início da pandemia Bolsonaro se revelou contra o isolamento social, chegando a declarar que a doença não mataria nem 800 pessoas no país ou que se tratava de uma gripezinha, ao passo que os governadores se apresentaram apreensivos ante o avanço dos índices da doença mundo a fora e o complexo cenário brasileiro que incluía, entre outras coisas,  alta densidade populacional e precarização do Sistema Único de Saúde (SUS). Contrário ao posicionamento de governadores e prefeitos, no desenhar da crise sanitária, Bolsonaro editou a medida provisória 926 que atribuía ao governo federal poder para determinar como funcionaria o isolamento social, a quarentena e interdição de serviços essenciais, no entanto a medida foi considerada arbitrária e reorientada pelos nove ministros do STF. Na nova orientação feita pelo STF, governadores e prefeitos teriam legitimidade para adotar medidas locais de restrição de circulação e que ao governo federal competiria, por exemplo, coordenar as diretrizes de isolamento a serem seguidas em todo o país, o que não foi feito já que a presidência era contrária ao isolamento e optou por adotar o tom “não é minha responsabilidade”.

Finalizando a análise dessa categoria, no terceiro aspecto, a proibição de aglomerações, a necessidade de isolamento social bem como a obrigatoriedade do uso de máscaras foi colocada em xeque pelo presidente que não só convocou aglomerações, como as manifestações pró governo e contra o congresso realizadas no mês em março de 2020, como deixou de usar máscaras, contrariando orientações estaduais e apareceu diversas vezes em ambientes públicos causando aglomerações. Apesar disso, se viu em diversas ocorrências Bolsonaro negando esses atos. “Não descumpro qualquer orientação sanitária por parte do senhor Ministro da Saúde, a nossa autoridade máxima no momento sobre esse caso”, declarou Bolsonaro em 18 de março de 2020. Duplamente falsa, a declaração mostra um discurso diferente da prática no que se refere ao descumprimento das orientações sanitárias como também desmente o presidente sobre a importância dada às orientações do ministro da saúde sobre como conduzir a pandemia, já que Luiz Henrique Mandetta, e depois dele Nelson Teich, deixou o cargo no auge da pandemia por discordância com as orientações do governo federal.

4.3 Covid-19: efeitos, minimização e cloroquina

Ao que tudo indica, a pandemia da covid-19 entrará para a história pelo número de vidas que tirou. Em setembro de 2020 ela já havia matado 1 milhão de pessoas mundo afora, sendo que desse total, 145.987 no Brasil. Em meio a esses números crescentes, a grande onda de desinformação acerca da pandemia contou com mensagens emitidas via discurso presidencial que negavam as comprovações científicas sobre a doença, inflavam o número de leitos disponíveis nos hospitais do país e diminuíam o número de mortos, além de validar o uso de terapias e medicação sem comprovação médica. Em trechos de mensagens, chama a atenção a comparação feita pelo presidente entre a covid-19 e a gripe comum e a H1N1, ainda que a OMS tenha declarado que a H1N1 foi muito menos letal do que inicialmente imaginado. De acordo com o Gustavo Queiroz, via Portal Uol, existe uma estimativa de que a taxa de mortalidade na gripe H1N1 foi de apenas 0,026% ao passo que para a covid-19 calcula-se que fique entre 0,5% e 1%, transformando a covid-19 em uma doença 20 vezes mais letal que a gripe suína (Uol, 2020).

 De mãos dadas com essa deturpação sobre os efeitos e números da doença estão as 21 mensagens em que de modo mais direto Bolsonaro minimiza a doença. A título de exemplificação, no dia 27 de março ele reitera a ideia de que se trata de uma doença de simples impacto no sistema imunológico humano para 90% da população e que por isso não haveria a necessidade de as escolas estarem fechadas, já que as crianças não são do grupo de risco. Na mesma mensagem o presidente reforça que os jovens e os atletas estariam isentos da doença, tese que não se comprovou com o desenrolar da pandemia e com o volume crescente de mortos, incluindo nesse volume pessoas dentro dos perfis citados. Na mesma linha, em diversas mensagens, são vistos exercícios de futurologia destacando quem morreria e quem não morreria de covid-19. “... caso fosse contaminado pelo vírus, [eu] não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito acometido de uma gripezinha ou resfriadinho...”, disse o presidente.

5. Considerações Finais 

Com o intuito de responder quais narrativas predominaram nas declarações feitas pelo presidente Bolsonaro sobre a pandemia da covid-19 no Brasil, no período de janeiro de 2019 a 9 de julho de 2020 este estudo percorreu 533 mensagens catalogadas pela fact-chekingAos fatos” e selecionou para análise 233 classificadas como fake-news. Ao fazer a investigação do conteúdo encontrado, pôde-se constatar que o discurso presidencial contendo informações falsas sobre a covid se centraram, de modo geral, em minimizar a pandemia e negar direitos aos mais pobres, sobretudo porque nas mensagens categorizadas como medidas restritivas (92 mensagens), a covid-19 (75 mensagens) e economia (66 mensagens), viu-se um endereçamento do discurso para a manutenção do que o governo julga prioritário: a economia das empresas e a adesão ao estado mínimo no que se refere às questões sociais.

Como conclusão desse estudo, faz-se memória que a máxima defendida na discussão teórica desse artigo está relacionada à ideia de que as fake news ganharam força com o advento das redes sociais, mas não nascem do acaso. Elas são as verdades que servem a uma lógica neoliberal, se apoiam na tecnologia e seus algoritmos e dialogam com modelos de governos espalhados pelo mundo. Ainda, promovem um endereçamento diferente da doença mundo a fora. No Brasil isso pôde ser visto no discurso presidencial, nas subnotificações de mortes pela doença e no alto índice de contágio e óbito em ambientes periféricos país adentro. Empresta-se a fala de Mbembe (2020) para destacar que a lógica do sacrifício está no coração do neoliberalismo, que opera com a ideia de que uns valem mais que os outros. Ao oferecer tratamento diferenciado às vítimas da pandemia desvelou-se a base normativa do Estado para decidir quem vive e quem morre.

Finalmente, ao fazer um mergulho nas falas presidenciais que contrariam dados e orientações sanitárias de instituições oficiais da modernidade, vê-se claramente como operam a rede comunicativa de Bolsonaro na propagação de fake news. Nos pronunciamentos realizados sobretudo pelas redes sociais ou para sua rede de seguidores, Bolsonaro atualiza suas agendas, reforça suas teses e garante que a comunicabilidade continue operando por tantos outros espaços, a partir da lógica da polarização e da narrativa do ódio. O uso das redes sociais são parte de um elemento que é fundamental e articulador: é o momento específico em que o líder fala diretamente ao seu público (Borges, 2021).

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