Discussão sobre as características descolonizadoras da folkcomunicação: comunicar e conhecer na Feira Central de Campina Grande (PB)1

 

Discussion on the decolonizing characteristics of folktommunication: communicate and meet at the Central Fair of Campina Grande (PB)

Discusión sobre las características descolonizadoras de la folkcomunicación: comunicar y conocer en la Feria Central de Campina Grande (PB)

 

e-ISSN: 1605 -4806

VOL 26 N° 115 septiembre - diciembre 2022 Monográfico pp. 91-106

Recibido12-07-2022 Aprobado 14-12-2022

 

Ermaela Cícera Silva Freire

Brasil

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

ermaelacicera@gmail.com

Itamar de Morais Nobre

Brasil

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

ita.nobre@gmail.com

 

Resumo

As práticas culturais e comunicacionais das populações marginalizadas continuam coexistindo com as inovações tecnológicas próprias da globalização, isso demonstra a capacidade de resistência e ressignificação cultural dos agentes da cultura popular. O objetivo desse trabalho é discutir as características folkcomunicacionais e descolonizadoras no universo da Feira Central de Campina Grande (PB). Metodologicamente, realizamos uma pesquisa bibliográfica, a partir do arcabouço teórico a seguir: Kilomba (2008), Beltrão (2014), Marques de Melo (2008 e 2010), Santos e Meneses (2013), Santos (2019) e Mignolo (2016). Concluimos que a utilização desse caminho teórico auxilia na compreensão dos fenômenos sociais, culturais e comunicacionais e ainda evidenciam a força da tradição popular expressa nas narrativas, nos saberes, nas vivências e nos processos de sociabilidade próprios da cultura popular ou subalterna. Foi possível ainda observarmos algumas narrativas folkcomunicacionais e por sua vez contra hegemônicas que permeiam a Feira Central de Campina Grande (PB), dessa forma percebemos que a descolonização epistêmica é uma alternativa para as investigações científicas da comunicação popular.

Palavras-chave: Folkcomunicação; Cultura Popular; Feira Central de Campina Grande (PB).

Abstract

The cultural and communicational practices of marginalized populations continue to coexist with the technological innovation’s characteristic of globalization, this demonstrates the capacity of resistance and cultural re-signification of the agents of popular culture. The objective of this work is to discuss the folkcommunicational and decolonizing characteristics in the universe of the Central Fair of Campina Grande (PB). Methodologically, we conducted a bibliographic research, based on the following theoretical framework: Kilomba (2008), Beltrão (2014), Marques de Melo (2008 and 2010), Santos e Meneses (2013), Santos (2019) and Mignolo (2016). We conclude that the use of this theoretical path helps in the understanding of social, cultural, and communicational phenomena and still show the strength of popular tradition expressed in the narratives, knowledge, experiences and processes of sociability proper to popular or subordinate culture. It was also possible to observe some folkcommunicational narratives and in turn against hegemonics that permeate the Central Fair of Campina Grande (PB), in this way we realize that epistemic decolonization is an alternative to the scientific investigations of popular communication.

Keywords: Folkcommunication; Popular Culture; Central Fair of Campina Grande (PB).

Resumén

Las prácticas culturales y comunicacionales de las poblaciones marginadas continúan coexistiendo con las innovaciones tecnológicas propias de la globalización, esto demuestra la capacidad de resistencia y resignificación cultural de los agentes de la cultura popular. El objetivo de este trabajo es discutir las características folkcomunicacionales y descolonizadoras en el universo de la Feria Central de Campina Grande (PB). Metodológicamente, realizamos una investigación bibliográfica, a partir del marco teórico a seguir: Kilomba (2008), Beltrão (2014), Marques de Melo (2008 y 2010), Santos e Meneses (2013), Santos (2019) y Mignolo (2016). Concluimos que la utilización de ese camino teórico auxilia en la comprensión de los fenómenos sociales, culturales y comunicacionales y aún evidencian la fuerza de la tradición popular expresada en las narrativas, en los saberes, en las vivencias y en los procesos de sociabilidad propios de la cultura popular o subalterna. Fue posible también observar algunas narrativas folkcomunicacionales y a su vez contra hegemónicas que permean la Feria Central de Campina Grande (PB), de esa forma percibimos que la descolonización epistémica es una alternativa para las investigaciones científicas de la comunicación popular.

Palabras-clave: Folkcomunicación; Cultura Popular; Feria Central de Campina Grande (PB).

 

Introdução

O fenômeno da globalização no que diz respeito aos aspectos comunicacionais gera processos como o impulsionamento de novos fluxos de informação e espaços de interação, a necessidade de aproximação dos indivíduos com sua própria realidade e ainda possibilita a discussão sobre a regionalização. Assim, os estudos sobre o eixo comunicação e cultura popular defendidos pela folkcomunicação2 privilegiam as camadas populares que resistem e ressignificam suas manifestações culturais. Contudo, a cultura hegemônica dos meios de comunicação de massa invisibiliza os conhecimentos populares, o que limita o conceito de mídia e de comunicação a um pensamento unilateral e sem representatividade.

O objetivo principal deste trabalho é objetivo é discutir as características folkcomunicacionais e descolonizadoras no universo da Feira Central de Campina Grande (PB) a partir da reflexão dos pontos de encontro entre os dois pensamentos. Busca-se também lançar luz sobre a incorporação da teoria da folkcomunicação nos estudos da comunicação e cultura popular, assim utiliza-se como respaldo teórico-metodológicos os estudos de Kilomba (2008), Luiz Beltrão (2014), Santos e Meneses (2013), Santos (2019) e Mignolo (2016).

Cabe destacar que este artigo científico faz parte das discussões da dissertação de mestrado intitulada Folkcomunicão, mediações e consumo em contextos regionais: uma cartografia da Feira Central de Campina Grande (PB), cujo objetivo principal foi investigar os processos comunicacionais existentes entre feirantes e consumidores na Feira Central de Campina Grande (PB), no contexto da folkcomunicação e das epistemologias do sul. A referida investigação científica é desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia (PPgEM) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

A discussão deste texto quer responder as seguintes problemáticas: é possível identificar características folkcomunicacionais e decoloniais na Feira Central de Campina Grande (PB)? esse movimento teórico-metodológico pode ser uma saída para enxergarmos a comunicação popular como narrativa contra hegemônicas e descolonizadas? São esses os questionamentos que consideramos pertinentes à investigação.

Do ponto de vista da abordagem, a pesquisa se caracteriza como qualitativa, na modalidade pesquisa bibliográfica, com base no arcobouço téorico já mencionamdo anteriormente consideramos o recurso metodológico adequado à investigação, uma vez que permite o delineamento da discussão e gera embasamento teórico e metodológico para o artigo. No que concerne às técnicas de coletas de dados na presente investigação foram utilizadas a leitura e interpretação de textos com a finalidade de materializar os subsídios téoricos próprios do método utilizado.

Para justificar a importância desta pesquisa para a área da comunicação, parte-se da premissa de que as reflexões sobre a teoria da folkcomunicação, sendo um pensamento teórico genuinamente brasileiro, justifica o presente estudo no âmbito acadêmico, assim o tema agregará contribuições para o debate científico associada aos estudos voltados a descolonização epistêmica. O estudo revela pertinência também pois ilumina questões contemporâneas e críticas sobre as condições de viver, dos sujeitos e sujeitas sociais-políticos, em um mundo ainda permeado pelo modelo colonial e onde os quais não possuem o sentimento de pertença ou o encontram com certa dificuldade.

Como relevância histórica e cultural, salienta-se que a Feira Central de Campina Grande (PB), em 27 de setembro de 2017, foi registrada como Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Apenas duas feiras livres no Brasil ocupam a categoria de bens registrados da instituição, a Feira Central de Campina Grande (PB), ao lado da Feira de Caruaru (PE), está no Livro de Registros3 na categoria Lugares.

Por fim, o raio de observação se constitui na aliança de teorias descoloniais e anticoloniais que buscam a crítica contemporânea voltada para a comunicação popular ou subalternizada com ênfase nas práticas sociais, culturais e simbólicas. A intenção é propor caminhos teóricos e metodológicos para investigar as narrativas do povo, que se edificam a margem dos paradigmas e conceitos vigentes no mundo acadêmico e midiático colonizados.

1. Folkcomunicação e suas características descolonizadoras
de epistemologia do sul

No Brasil e no mundo existem regiões marginalizadas ou mesmo subalternas nas quais o processo de globalização não é uniforme e muitas vezes ainda não adentrou completamente. Nesse prisma, a comunicação a nível popular, oriundas das tradições ou do folclore4, coexiste com a mídia produzida pelos grupos sociais dominantes, e assim possuem uma função social operando através de práticas sociais e costumes gerados nos espaços culturais onde estão inseridos os sujeitos sociais. Tais sujeitos vão agir e alterar o local onde vivem partindo de experiências, conhecimentos herdados e gerados, e suas práticas culturais locais e globais. Todos esses elementos são transmitidos por múltiplos canais de comunicação verbal e não verbal e que estão intrinsecamente atrelados aos processos de comunicação e aprendizagem ocorridos nas interações humanas. Diante disso Trigueiro (2008) coloca o seguinte:

Luiz Beltrão (1980) e Martín-Barbero (2000), investigando, em lugares e tempos diferentes, os meios de comunicação e as suas relações com os vários contextos históricos, culturais e sociais latino-americanos, percebem a existência e a importância dos modos de comunicação vindos desses grupos populares que se espalham pelas redes cotidianas. Também percebem que as mensagens midiáticas, no percurso da emissão à audiência, são passadas por várias instâncias das redes de comunicação cotidiana onde são ressignificadas (Trigueiro, 2008, p. 43).

Nesse cenário, brotam questionamentos originados no âmbito das reflexões sobre comunicação e cultura popular: quais são os meios de comunicação popular? Quem produz comunicação e conhecimento fora do circuito hegemônico? As respostas para estas perguntas estão no lastro do pensamento norteador que estabelece a existência social de diferentes lógicas, além das camadas sociais hegemônicas, podemos considerar que existem povos invisíveis que estão posicionados à margem das discussões acadêmicas no campo comunicacional, contudo as expressões culturais populares carregam em si u m processo de comunicação vivo e vem sendo objeto de reflexões teóricas e de investigações científicas na esfera da folkcomunicação.

Ao pensar nessa vertente de estudos e pesquisas podemos considerar que a folkcomunicação figura como uma teoria da comunicação genuinamente brasileira e fornece estímulos ao regionalismo, e a uma cultura contra-hegemônica que vem dar visibilidade as expressões das camadas populares não incluídas no sistema da mídia tradicional. Essa corrente de pensamento vem consolidando a opção pelas mídias alternativas como foco de análise e interpretação da academia, sendo assim esse movimento possibilita um diálogo com a mídia hegemônica, o que amplia o raio de observação dos fenômenos folkcomunicacionais.

Conforme Beltrão (2014, p. 70) “Folkcomunicação é, assim, o processo de intercâmbio de informações e manifestação de opiniões, ideias e atitudes da massa, através de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore”. Para ele:

A folkcomunicação é, por natureza e estrutura um processo artesanal e horizontal, semelhante em essência aos tipos de comunicação interpessoal já que suas mensagens são elaboradas, codificadas e transmitidas em linguagens e canais familiares à audiência, por sua vez conhecida psicológica e vivencialmente pelo comunicador, ainda que dispersa. (Beltrão, 2014, p. 17).

As principais características da teoria são: horizontalidade, artesanalidade, dialogia, participatividade e fluxo em duas vias. Na horizontalidade a medida em que emissores e receptores pertencem a um mesmo estrato cultural, social ou financeiro; a artesanalidade se justifica pelo modo como é produzida e disseminada no campo social. No que diz respeito a dialogia, a teoria recupera o elemento de diálogo e alternância entre as funções de emissor e receptor; participatividade, com o acesso amplo por parte de toda a comunidade a este processo e fluxo comunicativo em duas vias.

O primeiro fluxo é comunicação horizontal realizada pelos agentes ativos que são os criadores ou produtores e os denominados ativistas midiáticos, que são decodificadores ou divulgadores que estabelecem um diálogo estando engajado no contexto comunitário, contudo também atua em outras esferas no processo folkcomunicativo. o segundo fluxo diz respeito à apropriação dos elementos da cultura popular pela sociedade midiatizada, os processos vão produzir mensagens, meios e canais para atender tanto aos agentes internos e internos ao grupo social de origem.

As classes sociais não-hegemônicas, populares ou marginalizadas, como se referia Luiz Beltrão, produzem uma comunicação viva e pode-se dizer que esse estrato da população é permeado por uma lógica própria de ser, fazer e comunicar. E no seu processo de comunicação singular participam no recebimento da mensagem com agentes que filtram as informações, colaboradores na interpretação como o líder de opinião (Beltrão, 2014) ou o ativista midiático (Trigueiro, 2008). Sobre esse participante do processo folkcomunicativo Beltrão (2014) destaca que:

O líder de opinião tem essa capacidade: é tradutor, que não somente sabe encontrar palavras como argumentos que sensibilizam as formas pré-lógicas que, segundo Lévy Bruhl, Bastide, Malinowsky e outros sociólogos, antropólogos e psicólogos caracterizam o pensamento e ditam a conduta desses grupos sociais. (Beltrão, 2014, p. 61).

No campo das relações entre saberes, as pesquisas em folkcomunicação dispõem de um referencial teórico-metodológico interdisciplinar utilizando conceitos próprios do pensamento folkcomunicacional como também congregando teorias filosóficas, sociológicas e antropológicas. Dessa forma, a folkcomunicação dialoga com correntes de pensamento que vem contribuindo para a produção científica na área. Podemos citar nesse diálogo correntes atuais como o pensamento descolonizado e decolonial, com mais especificidade nessa reflexão as epistemologias do Sul lembrando que as duas correntes não correspondem a sinônimos conceituais, pois alguns autores e autoras optam pela grafia diferenciada como um posicionamento político e epistemológico.

Para efeitos explicativos sobre esses termos podemos afirmar que a descolonização é o processo de independência política e social do colonialismo, contudo “refere-se antes a um amplo processo histórico de recuperação ontológica, ou seja, o reconhecimento de conhecimentos e a reconstrução da humanidade. Inclui, é claro o direito inalienável de um povo de ter a sua própria experiência” (Santos, 2019, p. 164). É uma perspectiva libertadora que visa facilitar a compreensão dos indivíduos por eles mesmos privilegiando seus conhecimentos e suas experiências como base para suas epistemologias e perspectivas políticas, isto é, não pensar o mundo de forma parcial ou unilateral.

Por decolonialidade podemos entender um conjunto de categorias explicativas e analíticas, cuja função é fazer uma crítica ao modelo moderno e colonial, podemos considerar que não se restringe à interpretação e à crítica por esse motivo não é um modelo apenas teórico. Sendo assim, esse programa implica também em intervenções no espaço das ações práticas e traz como objetivo a ultrapassagem da teoria sem prescindi-la. É importante destacar que a discussão do conceito de decolonialidade deve suceder às discussões sobre o conceito de colonialidade, que surgiu a partir de pensadores e pensadoras da América Latina, assim esse grupo busca compreender o que havia transcendido e o que ainda permanece nos povos da América Latina com relação às práticas discursivas, à valores sociais e políticos após o colonialismo histórico. Nas palavras de Mignolo (2016):

A “colonialidade” é um conceito que foi introduzido pelo sociólogo peruano Anibal Quijano, no final dos anos 1980 e no início dos anos 1990, que eu elaborei em Histórias locais/projetos globais e em outras publicações posteriores. Desde então, a colonialidade foi concebida e explorada por mim como o lado mais escuro da modernidade. Quijano deu um novo sentido ao legado do termo colonialismo, particularmente como foi conceituado durante a Guerra Fria junto com o conceito de “descolonização” (e as lutas pela libertação na África e na Ásia). A colonialidade nomeia a lógica subjacente da fundação e do desdobramento da civilização ocidental desde o Renascimento até hoje, da qual colonialismos históricos têm sido uma dimensão constituinte, embora minimizada. O conceito com empregado aqui, e pelo coletivo modernidade/colonialidade, não pretende ser um conceito totalitário, mas um conceito que especifica um projeto particular: o da ideia da modernidade e do seu lado constitutivo e mais escuro, a colonialidade, que surgiu com a história das invasões europeias de Abya Yala, Tawantinsuyu e Anahuac, com a formação das Américas e do Caribe e o tráfico maciço de africanos escravizados (Mignolo, 2016, p. 2).

A partir dessa reflexão e da perspetiva das epistemologias do sul podemos pensar as noções impostas sobre o saber, as representações do real, as formas de comunicação dentro e fora dos contextos midiáticos hegemônicos.A expressão Epistemologias do Sul é uma metáfora do sofrimento, da exclusão e do silenciamento de povos e culturas que, ao longo da história, foram dominados pelo capitalismo e colonialismo” (Santos & Meneses, 2013, p. 183). Esse movimento epistemológico corrobora a visão plural e ampliadora que essa aliança de pensamentos nos permite vislumbrar a partir das práticas sociais dos grupos marginalizados. Dessa forma, a folkcomunicação recebe o status de epistemologia do sul, uma vez que, pode ser considerada parte integrante da diversidade de saberes invisibilizados e subalternizados existentes no mundo social, econômico e político.

2. Narrativas contra hegemônicas e pensamento descolonizado: olhares sobre conhecimento e comunicação popular

A realidade do mundo possui uma amplitude muito maior do que aquela que o conhecimento dominante nos impõe como existente. O foco das reflexões deve-se centrar na valorização da diversidade dos saberes (Santos & Meneses, 2013), com isso o objetivo das práticas sociais é preservado na sua amplitude e democracia. Dessa maneira, podemos concluir que existem diferentes formas de conhecimento para diferentes práticas sociais, o desafio científico, nesse pensamento, é enxergar o outro como sujeito do conhecimento, enxergando o mundo como local ou locais distintos em relação às culturas e saberes. A respeito da multiplicidade de saberes Palermo (2013) afirm que:

Como o problema da validade do conhecimento surge centralmente tem sido e é considerado em nossas academias, a questão está na reflexão sobre um problema epistemológico marcado pela diferença colonial alegando responder a uma pergunta inicial: por que é apenas legítima uma forma de conhecer - a eurocêntrica - e nenhuma outra? Articulada desta forma a questão epistemológica, assume desde o início a forma de uma questão política sobre o conhecimento e coloca a questão em termos de luta hegemônica dentro de um campo em que existem (e é reconhecido que existem dessa mesma hegemonia e para se validarem) várias formas de saber: magia, ciência, religião, entre outras e que são - por essa política – exclusivas uns aos outros em favor da ciência. (Palermo, 2013, p. 246, tradução nossa).5

Na obra de Boaventura de Sousa Santos o autor aborda temáticas como hegemonia, contra hegemonia, aspectos dominantes e emergentes da sociedade e ciência, epistemologias do Sul, ecologia dos saberes, globalização, democracia, emancipação social, ciência na pós-modernidade, paradigmas científicos, no contrafluxo do desperdício da experiência e no percurso de um conhecimento prudente para uma vida decente. (Nobre & Gico, 2015). Podemos considerar que pensar o conhecimento é acima de tudo pensar sobre nossa condição humana e subjetiva, e experienciar o mundo com pertencimento e protagonismo a partir de novos paradigmas epistemológicos, sociais e políticos. O que permite a reivindicação de outras formas de pensar, viver, sentir, ouvir e conhecer que precisam ser iluminadas, pois elas existem e estão vivas. No pensamento de Santos & Meneses (2013):

O importante numa avaliação histórica do papel da ciência é ter presente que os juízos epistemológicos sobre a ciência não podem ser feitos sem tomar em conta a institucionalidade que se constituiu com base nela. A epistemologia que conferiu à ciência a exclusividade do conhecimento válido traduziu-se num vasto aparato institucional universidades, centros de pesquisa, sistema de peritos, pareceres técnicos — e foi ele que tornou mais difícil ou mesmo impossível o diálogo entre a ciência e os outros saberes. Ora essa dimensão institucional, apesar de crucial, ficou fora do radar epistemológico. Com isso, o conhecimento científico pôde ocultar o contexto sócio-político da sua produção subjacente à universalidade descontextualizada da sua pretensão de validade. (Santos & Meneses, 2013, p. 16).

Dessa maneira apontamos que o processo de descolonização refere-se ao desmonte do colonialismo em diversas esferas sociais. Politicamente, o termo descreve o processo de autonomia por parte daquelas/es que foram colonizadas/os e, portanto, envolve a realização da independência e da autonomia. Todo o processo alcança um estado de descolonização; isto é, internamente, não se existe mais como a/o “Outra/a” mas como o eu. Kilomba (2008). Somos eu, somos sujeito, somos escritoras/os, somos narradoras/os, somos autoras/es e autoridade da nossa própria realidade, como afirma Grada Kilomba (2008):

Quando acadêmicas/os brancas/os afirmam ter um discurso neutro e objetivo, não estão reconhecendo o fato de que elas e eles também escrevem de um lugar específico que, naturalmente, não é neutro nem objetivo ou universal, mas dominante. É um lugar de poder. Desse modo, se esses ensaios parecem preocupados em narrar as emoções e a subjetividade como parte do discurso teórico, vale lembrar que a teoria está sempre posicionada em algum lugar e é sempre escrita por alguém. Meus escritos podem ser incorporados de emoção e da subjetividade, pois contrariando o academicismo tradicional, as/os intelectuais negras/os se nomeiam, bem como seus locais de fala e de escrita criando um novo discurso com uma nova linguagem. (Kilomba, 2008, p.58).

A partir disso tomamos também como referência o conceito de encruzilhada desenvolvido por Rufino (2008) para mostrar como o pensamento decolonial aponta para uma multiplicidade de caminhos e possibilidades deixando de lado as certezas definitivas. Na encruzilhada, assim como na feira livre aparecem e coexistem vários percursos, caminhos que sobem e descem ruas, sem muitas indicações de limites fixos, quem caminha pode perceber diversos rumos e práticas sociais, culturais e simbólicas.

Em sua potência, em contrapartida à lógica ocidental, um caminho não se torna credível em detrimento de outros. A encruzilhada destrona a linearidade e a pureza dos caminhos únicos, uma vez que suas esquinas e entroncamentos ressaltam os limites como zonas pluriversais, onde múltiplos saberes se atravessam, coexistem e pluralizam as experiências e suas respectivas práticas de conhecimento (Rufino, 2018). Assim o autor destaca que:

Dessa maneira, no que tange o corpo, a pedagogia das encruzilhadas o compreende como suporte de memórias, saberes, matriz primeira e potência motriz. Essa consideração está presente na noção de incorporação, conceito que circunscreve e credibiliza a dimensão dos saberes praticados, partindo do pressuposto de que todo saber, para se manifestar, necessita de um suporte físico. Assim, o suporte físico corpo é, por sua vez, parte do saber; não há separação entre eles. O suporte físico – corpo humano ou outra materialidade – é incorporado por um efeito, um poder que o “monta” (Rufino, 2018, p. 86).

Os novos discursos são provenientes de realidades marginais, uma vez que estas foram silenciadas durante o desenvolvimento do conhecimento nortecêntrico. Com essa abertura de pensamento foi possível surigerem novas maneiras de produção de conhecimento científico tendo como ênfase os campos social, popular e tradicional. Com isso destacamos a teoria da Folkcomunicação como teoria caracterizada por um pensamento de caráter emergente e com traços de justiça cognitiva entre os saberes, especificamente entre o conhecimento popular e o científico.

3. Práticas e saberes folkcomunicacionais na Feira Central de Campina Grande (PB)

Com enfoque na proposta de análise que vem sendo cosntruída os processos folkcomunicacionais nas feiras livres nordestinas podem ser olhadas pelo prisma das epistemologias do sul, já que são originados de classes populares, ou seja, aquelas que produzem uma comunicação privileigiada por esse campo de estudo. Essas narrativas muitas vezes silenciadas diante da mídia massiva ou tratadas como elemento puramente folclórico, trazem consigo elementos vivos para subsidiar a construção social desses grupos marginalizados6.

Essa investigação não é antropológica nem folclórica é folkcomunicacional, é fundamental nomeá-la para localizar o tipo de investigação, aqui nos lançamos a caminhar por espaços outros para que essa comunicação subalterna seja pensada também a partir do seu próprio local. Percebemos o modelo folkcomunicacional e as vozes subalternas presentes na investigação através das interações face a face e diálogos horizontais entre feirantes e fregueses.

A Feira Central de Campina Grande pode ser classificada como uma expressão comunicativa do meio popular, uma vez que permite o intercâmbio de informações dentro do universo cultural, popular e simbólico. Assim, a feira livre estudada da qual provém esta investigação bibliográfica é considerada objeto da folkcomunicação porque suas formas de comunicação atendem ao que (Beltrão, 2014) conceituou como o processo de intercâmbio de informações e manifestações de opiniões, ideias e atitudes de massa através de agentes ligados direta ou indiretamente ao folclore.

A cidade de Campina Grande está localizada na região do Planalto da Borborema, o município situado a 120 quilômetros de João Pessoa, capital da Paraíba, Nordeste do Brasil. De acordo com Dados do IBGE Cidades, o município conta com uma população estimada, em 2020, de 411.807 habitantes e uma área territorial de 591. 658 quilômetros quadrados. O local é considerado um dos principais polos industrial, tecnológico e estudantil do estado e da região Nordeste. Logo abaixo podemos ver o mapa de localização da Feira Central de Campina Grande (PB):

Figura 1: Mapa da Feira Central de Campina Grande (PB)

Uma imagem contendo texto, mapa  Descrição gerada automaticamente

Fonte: Ilustração Chateaubriand Almeida, 2021.

A Feira Central de Campina Grande (PB) ocupa um espaço de aproximadamente 75.000 m2 distribuído por nove ruas e um espaço edificado, o Mercado Central. As ruas que compõem a feira são: Rua Marcílio Dias, Rua Carlos Agra, Rua Deputado José Tavares, Rua Pedro Alvares Cabral, Rua Doutor Antônio Sá, Rua Capitão João de Sá, Rua Manoel Pereira Araujo, Rua Cristóvão Colombo e Rua Tavares Cavalcante. O espaço fica localizada no centro da cidade e o conta com 4.400 pontos comerciais e 16.000 feirantes de acordo com dados da pesquisa Feira Central de Campina Grande: diagnóstico urbano realizada em 2019 pela equipe do LabRua7.

A Feira das feiras, como também é conhecida pela expressividade econômica, se constitui em um lugar onde a comunicação ocorre por muitas vias seja oral, visual, simbólica ou midiática. Podemos destacar que, mesmo com a presença das novas tecnologias de informação e comunicação, a troca de informações predomina por meio da oralidade, gestualidade e afetividade, bem como por outros elementos da cultura popular nordestina. Como afirma Silva:

quando a cidade moderna emerge enquanto palco dos fenômenos constituintes das múltiplas identidades do sujeito contemporâneo, sobretudo, em sua experiência disjuntiva com os meios de comunicação e as novas tecnologias digitais, a interpretação das culturas populares pressupõe condições variadas e nem sempre ideias de apropriação e (inter)mediação de conteúdos informativos pelas classes abastadas. Já que o surgimento e consolidação dos meios de massa também propiciam o advento de novos instrumentos ideológicos de dominação, hegemonia e poder (Silva, 2015, p. 93).

Na comunicação entre feirantes e fregueses identificam-se expressões próprias do linguajar de “meio de feira” a exemplo pode-se destacar: “Pode chegar, vamo chegando freguesa”, “Moça bonita não paga, mas também não leva” e “Eita Dona Maria abaixei e não levanto mais”. Por meio da oralidade vão se construindo narrativas populares que compõem o multiverso da Feira das Feiras, dessa forma situamos as reflexões no debate que questiona as estruturas e hierarquias sociais, sendo possibilitado o olhar para epistemologias que problematizam a hegemonia do pensamento ocidental e nortecêntrico. As práticas de resistência cultural de grupos marginalizados ou subalternizados, entre outros aspectos, reforçam a pertinência do tema e apontam para possíveis desdobramentos. Como afirma Araújo (2020) a Feira Central possui uma multiplicidade de elementos materiais e imateriais:

Além dos ofícios e modos de fazer, brinquedos de flandres; artesanato de madeira; cestaria de cipó; cocho com pneus velhos, confecção de selas e arreios para cavalos; gastronomia nordestina, remédios naturais, como os lambedores e as ervas, mas também, buchada de bode, doces caseiros, quebra-queixo, batata, bolo engorda marido, gelada com pão doce e debulha de feijão verde. Encontram-se também, expressões culturais, como o cordel, o repente das cantorias de violas, as emboladas de coco, e vocabulário de “mei de feira”. Formas de falar que fazem parte do cotidiano dos que nela convivem. Constatam-se as edificações com valores históricos e arquitetônicos os famosos prédios Cassino Eldorado e Pau do Meio e os de valores social e cultural bares e barbearias remanescentes do antigo “péla porco”. (Araújo, 2020, s/p).

A fluidez do lugar, que se monta e desmonta a cada dia, perpassa as estratégias comunicacionais construídas nas trocas simbólicas através de falas, presença, gestos, cantos, conversas, confissões, abraços e laços afetivos. Além disso, as pessoas se reúnem nesse evento cultural para comprar, vender, trocar, trabalhar, festejar, reencontrar-se e sobretudo as pessoas reúnem-se na feira para se comunicar. A seguir podemos ver registros fotográficos da Banca de Seu Luiz da Revista que comercializa literarura de cordel além de outros artigos de leitura e variedades.

Imagem 2: Cordel

Imagem 3: Banco de revistas

Texto

Descrição gerada automaticamente

Fonte: Ermaela Cícera Silva Freire, 2020.

Uma imagem contendo muitos, velho, mesa, gato  Descrição gerada automaticamente

Fonte: Ermaela Cícera Silva Freire, 2022.

Imagem 4: Banca de artesanato

Imagem 5: Banca de tempero

Uma imagem contendo hidrante, homem, coberto, fogo  Descrição gerada automaticamente

Fonte: Ermaela Freire, 2020.

Venda de frutas  Descrição gerada automaticamente

Fonte: Ermaela Freire, 2020.

As relações estabelecidas na Feira Central de Campina Grande fazem dela uma caixa de ressonância da metrópole campinense. Ela é um mangue social, que alimenta e se alimenta das “matérias” que tornam a vida possível na cidade metropolitana. Tais relações não se resumem às compras e vendas, pois as formas de interação são complexas, inusitadas e refletem movimentos e conflitos presentes no dia a dia da cidade (Silva, 2020). Dessa forma, o autor destaca que:

A Feira Central é um lugar de convivência, de sociabilidades, de encontros e de desencontros, de convergências e de divergências. Ela é um mosaico de espaços de interações, onde as relações estabelecidas entre tempo, agentes sociais e processos, concorrem para que a vida na cidade que lhe dá produza diversidade e riqueza de possibilidades, de rituais, comportamentos, normas e limites de uso e apropriação do lócus urbano, do qual a feira faz parte (Silva, 2020, p. 394).

As feiras livres são ambientes de referências culturais que abarcam caminhos múltiplos no cenário urbano e popular contemporâneo, sendo assim elas subsidiam as identidades locais e traduzem a diversidade da sociedade brasileira. A partir disso entendemos que a feira investigada dispõe de riquezas econômicas e culturais que reverberam no dia a dia de diversos grupos sociais participantes da feira.

Conclusão

Diante das reflexões o referencial teórico utilizado mostrou-se pertinente, uma vez que respalda os processos folkcomunicacionais nas feiras livres nordestinas, especificamente na Feira Central de Campina Grande (PB). Assim apontamos como válida os olhares para o eixo da comunicação e cultura popular dispondo da teoria da folkcomunicação e de teorias pós coloniais e decoloniais como caminhos epistemológicos que revelam outros lugares cognitivos.

Com destaque retomamos nossa problemática: é possível identificar características folkcomunicacionais e decoloniais na Feira Central de Campina Grande (PB)? esse movimento teórico-metodológico pode ser uma saída para enxergarmos a comunicação popular como narrativa contra hegemônicas e descolonizadas?

Em virtude do que foi realizado neste artigo podemos perceber que é viável construir um arcabouço teórico consistente para subsidiar as pesquisas localizadas na aintersecção entre o pensamento folkcomunicaconal e as pós coloniais e decoloniais. Dessa maneira podemos destacar como ferramentas conceituais o trabalho de autores sobre a teoria da folkcomunicação (Beltrão, 2014), (Marques de Melo, 2008) e a respeito dos estudos das epsitemologias do sul e decoloniais (Santos, 2019), (Santos & Meneses, 2013), (Lander, 2005) e (Mignolo, 2016). Podem se somar a estes referenciais os Estudos Latino-Americanos da Comunicação, que comportam eixos básicos de pensamento o deslocamento dos meios às mediações (Martín-Barbero, 1987) e os processos de hibridização cultural (García Canclini, 1990).

Podemos concluir que diversos saberes são fortalecidos pelos múltiplos prismas originados do pensamento pós-colonial, descolonial como também do giro decolonial formado por autoras e autores da América Latina integrantes dos Grupos latino-americano de Estudos Subalternos (1992) e Grupo Modernidade/Colonialidade M/C. Dessa forma, vislumbramos o aprofundamento futuro das reflexões sobre as heranças do colonialismo e seus desdobramentos no campo da comunicação popular e subalternizada em produções posteriores, nesse ponto concluimos também que o artigo evidenciou a comunicação popular como resistência à contra hegemonia e à colonização.

Considerando os processos folkcomunicativos nas feiras livres em nível teórico e empírico “é possível centrar-se na valorização da diversidade dos saberes, dessa forma a comunicação na feira livre pode ser enxergada como um instrumento de conhecimento plural” (Freire & Nobre, 2021, p.92). Os autores propõem que as feiras livres do Nordeste, podem ser vistos como eventos socioculturais, e se mostram como um território fértil para acolher estudos e pesquisas dos processos comunicacionais pelos quais as manifestações da comunicação popular se processam e se modificam pela ação da comunicação massiva. Portanto, as particularidades evidenciadas nas expressões de um povo demonstram uma complexidade de cadências, compassos, formas, formatos, cores e valores que mesclados configuram o patrimônio cultural de uma sociedade (Freire & Nobre, 2021).

Por fim, indicamos desdobramentos posteriores relevantes: a análise dos personagens constituintes da Feira Central de Campina Grande (PB) com objetivo de traçar o perfil folkmidiático dos mesmos e ainda verificar a possível presença de elementos do folkmargeting (Lucena, 2006), folkpublicidade (Rett, 2019), bem como a presença de mediações espaciais, humanas e virtuais (Semprini, 2010).

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1 O presente traballho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior - Brasil (Capes) – código de financiamento 001.

2 Este nome doi dado pela conjunção de duas palavras – “folclore” e “comunicação”. Na época de Luiz Beltrão, no Brasil folclore se escrevia com com “K”, e assim nasceu Folkcomunicação, também com “K”, como Joseph Luyten historiou. O que para muitos questionadores mais atuais da teoria foi motivo de estranhamento e crítica, pois parecia uma submissão a uma língua estrangeira, uma americanização. Mas não, pois assim era grafado o termo até a reforma ortográfica de 1970 (Pires, 2020, p. 247).

3 O Decreto 3.551/00 considerou, então, o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial por meio de um ou mais dos seguintes Livros: 1. Livro de Registro dos Saberes para a inscrição de conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades; 2. Livro de Registro das Celebrações – para rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social; 3. Livro de Registro das Formas de Expressão – para as manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas, produzidas por coletividades e que tenham transmissão geracional de seus saberes e práticas; 4. Livro de Registro dos Lugares – destinado à inscrição de espaços representativos de identidades, como mercados, feiras, praças e santuários onde se concentram e se reproduzem práticas culturais coletivas (Iphan, 2018, pp. 12-13).

4 Conforme afirma Amphilo (2013): O Folclore é o cultivo, a preservação das práticas populares, que se tornam tradicionais pela sua importância para a comunidade. É preciso recordar do que passou e projetar o futuro. Olhar para o passado, viver o presente de maneira mais “esperta”, crítica, para que o futuro seja melhor. O folclore tem em sua essência a motivação e a esperança numa mudança social para melhor, mas em beneficio de toda comunidade, todo o grupo (Amphilo, 2013, p. 47).

5 No original: Al surgir centralmente el problema de la validez del conocimiento tal como ha sido y es considerado en nuestras academias, la cuestión radica en la reflexión sobre un problema de orden epistemológico marcado por la diferencia colonial que reclama dar respuesta a una pregunta inicial: ¿por qué es legítima una sola forma de conocer - la eurocentrada - y no cualquier otra? Articulada de esta manera la cuestión epistemológica, asume desde el principio la forma de una pregunta política sobre el conocimiento y coloca la cuestión en términos de lucha hegemónica al interior de un campo en el que existen (y se reconoce que existen desde esa misma hegemonía y para autovalidarse) varias formas de conocer: magia, ciencia, religión, entre otras y que resultan - para esa política- excluyentes entre sí a favor de la ciencia (Palermo, 2013, p. 246).

6 Beltrão (1980) pensa a audiência folk e estabelece três grandes grupos excluídos: o primeiro, os grupos rurais marginalizados: sobretudo devido ao seu isolamento geográfico, sua penúria econômica e baixo nível intelectual. No segundo grupo destacamos os grupos urbanos marginalizados: compostos de indivíduos situados nos escalões inferiores da sociedade, constituindo as classes subalternas, desassistidas, subinformadas e com mínimas condições de acesso. No terceiro grupo estão os culturalmente marginalizados sejam urbanos ou rurais, que representam contingentes de contestação aos princípios, à moral ou à estrutura social vigente (Beltrão, 1980).

7 O Laboratório de Rua é uma associação civil sem fins lucrativos, com fins educacionais e de pesquisa técnico-científica. Com sede na cidade de Campina Grande, na Paraíba, o LabRua tem como objetivo desenvolver estudos voltados aos espaços públicos, mobilidade de pessoas por qualquer meio de transporte, promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural, entre outras finalidades. Em 2019, o LabRua em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura Municipal de Campina Grande realizou o Diagnóstico Urbano da Feira Central da cidade. Fonte: Labrua.org.