Cartografia do ódio em rede: análise da Liga de futebol profissional em Portugal

 

Online hate cartography: analysis of the professional football league in Portugal

Cartografía del odio en las redes sociales: análisis de la Liga de fútbol profesional en Portugal

 

e-ISSN: 1605 -4806

VOL 26 N° 113 enero - abril 2022 Monográfico pp. 10-24

Recibido 19-02-2022 Aprobado 28-04-2022

 

Sandra Miranda

Escola Superior de Comunicação Social – IPL; CIES – Iscte, Portugal.

smiranda@escs.ipl.pt

 

Ana Cristina Antunes

Escola Superior de Comunicação Social – IPL, Portugal.

Branco Di Fatima

CIES – Iscte, Portugal.

 

Resumo

A presente investigação tem como principal objetivo analisar as narrativas de ódio de tipo racista que são proferidas nos social media dos clubes da Liga Portuguesa de futebol profissional, na temporada de 2020/2021. Para o efeito, adotou-se uma metodologia mista, quantitativa e qualitativa, organizada em três momentos sequenciais: extração de dados do Facebook, o tratamento e a análise de conteúdo. Os dados postos em evidência mostram, essencialmente, a presença de manifestações discursivas racistas de cariz impulsivo, instrumental e, por vezes, regionalista. Em sentido oposto, monitorizou-se um conjunto de comentários de repúdio face às expressões de racismo e um apelo ou mesmo incitação à atuação dos clubes de futebol e dos seus órgãos para travar tais manifestações de racismo.

Palavras-Chave: discurso de ódio, racismo, social media, futebol.

Abstract

The main objective of the present investigation is to analyze the racist hate speech that are uttered in the social media of the clubs of the Portuguese professional football league, in the 2020/2021 season. For this purpose, a mixed, quantitative, and qualitative methodology was adopted, organized in three sequential moments: data extraction from Facebook, processing, and content analysis. The data reveals, essentially, the presence of racist discursive manifestations of impulsive, instrumental and regionalist nature. In the opposite direction, a set of comments repudiating expressions of racism and an incitement to the action of football clubs to stop such manifestations of racism.

Key Words: hate speech, racism, social media, football.

Resumen

El objetivo principal de la presente investigación es analizar las narrativas de odio racista que se pronuncian en las redes sociales de los clubes de la liga de fútbol profesional portuguesa, en la temporada 2020/2021. Para ello se adoptó una metodología mixta, cuantitativa y cualitativa, organizada en tres momentos secuenciales: extracción de datos de Facebook, procesamiento y análisis de contenido. Los datos puestos en evidencia muestran, esencialmente, la presencia de manifestaciones discursivas racistas de carácter impulsivo, instrumental y, en ocasiones, regionalista. En sentido contrario, se monitorearon un conjunto de comentarios de repudio a las expresiones de racismo y un llamamiento o incluso incitación a la acción de los clubes de fútbol y sus organismos para frenar tales manifestaciones de racismo.

Palavras clave: discurso del odio, racismo, redes sociales, fútbol.

 

1. Introdução

Este artigo analisa o discurso racista nas páginas de Facebook dos 18 clubes da Primeira Liga do futebol profissional em Portugal. Como um fenómeno moldado por dinâmicas das redes sociais, os discursos de ódio migraram das bancadas dos estádios para o universo digital, agora, com potencial para atingir uma audiência maior e por tempo dilatado. Os discursos de ódio, em especial o racismo no futebol, tem mobilizado diferentes análises e leituras no meio académico. Estudos recentes mostram, inclusive, que a natureza dos discursos de ódio nas redes sociais tem dificultado a dissuasão da sua prática (Ben-David & Matamoros-Fernández, 2016).

A abordagem metodológica baseia-se em um raciocínio misto, organizado em três fases: extração de dados, tratamento e análise de conteúdo. A amostra original conta com 5.192 posts e 280 mil comentários dos fãs, realizados em três meses da Época 2020/202. Esses dados foram recolhidos via Facebook Graph API. A partir um algoritmo em Visual Basic, desenvolvido no âmbito desta investigação, a amostra dos comentários foi cruzada a uma lista com 78 expressões potencialmente racistas. A análise de conteúdo considerou três categorias: racismo impulsivo, racismo instrumental e reações face a atitudes ou comportamentos racistas. O objetivo é mapear a incidência do racismo nos comentários dos fãs para, depois, distinguir os tipos e os alvos dos ataques nas páginas dos clubes.

Os principais resultados revelam o predomínio do racismo de cariz impulsivo, em mais da metade dos comentários da amostra. Esses ataques em rede são direcionados principalmente contra jogadores e técnicos. Outro fenómeno identificado, ainda nessa categoria, são os ataques de cariz regionalista, contra indivíduos nacionais de outras zonas do país. Já comentários contra etnias são pontuais, e tem a população negra como principal alvo. Embora surja em menos da metade da amostra, o racismo instrumental nacionalista é o que mobiliza, em média, o maior número de reações dos fãs, na forma de likes.

2. Revisão da literatura

2.2. O discurso de ódio nos social media

A popularização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) impeliram notáveis transformações na forma como os cidadãos participam na vida pública. Neste novo cenário, a sociedade em rede e a internet, reorganizaram o espaço o mundial e derrubaram fronteiras conferindo-nos o poder e a possibilidade de consumirmos, criarmos, comunicarmos e distribuirmos conteúdo num espaço de participação e de livre expressão pessoal. Mas se, por um lado, a interação na internet é um fator determinante de organização e de estruturação social, interferindo no exercício da cidadania, nas relações políticas, sociais e económicas, é também um terreno fértil para amplificação de aspetos conflituosos da realidade e do relacionamento social, como o ódio e todas as suas manifestações (Pezzella e Borba, 2012; Santos, 2015).

Para Timofeeva (2003) a internet criou as condições propícias e forneceu recursos exclusivos para expandir a verbosidade do ódio. Trata-se de uma ferramenta relativamente barata e altamente eficaz para indivíduos ou grupos racistas espalharem ideias odiosas para uma audiência. Dias (2007) acrescenta que na internet se assiste à produção, legitimação e reprodução destes discursos. Para o investigador, o conteúdo do discurso do ódio elimina ou minimiza o caráter comunicativo já que as mensagens ao serem expressas deixam de ser recebidas como mensagens e passam a ser interpretadas e sentidas como atitudes e comportamentos.

Revisitando a literatura, verificamos que não existe uma definição universal em relação ao discurso de ódio, coexistindo diversos entendimentos multidisciplinares e abordagens sobre o fenómeno (Silva, 2018; Costa, 2020; Fernandes, 2020). De acordo com Brugger (2007), o termo origina do inglês hate speech e é aquele que comporta palavras que tendem a insultar, a intimidar ou a assediar pessoas em virtude de sua raça, cor, etnicidade, nacionalidade, sexo ou religião, entre outros atributos. Trata-se de uma atitude de ódio sistemático e de agressividade em relação à maneira de ser, estilo de vida, crenças, e convicções de um indivíduo ou grupo de indivíduos tendo “a capacidade de instigar violência, ódio ou discriminação contra tais pessoas” (pg. 21). Meyer-Plufg (2009) amplia o debate estendendo à intolerância e à discriminação por género, orientação sexual e identidade, gizando que a discriminação e a externalização são os dois elementos configuradores do discurso de odio. Nas suas palavras, o problema instala-se quando o pensamento ultrapassa limites e o ódio toma corpo através da palavra.

Também Wieviorka (2007) e Bourdieu (2012) se debruçaram sobre o tema, para quem o discurso de ódio perpetua uma violência, sobretudo, simbólica, que é percebida através da linguagem e do discurso e cujos efeitos podem-se manter nesse âmbito ou extravasá-lo, passando à violência física.

Mas o tema do ódio e da sua exultação na esfera pública não é novo! Basta lembrarmo-nos de Mandevillhe (1715) e da sua célebre obra Fábula das Abelhas, apontando que alguns vícios privados, como é o caso do ódio, estarem a adquirir aceitabilidade pública. Certo é que, nos últimos vinte anos, este vício de demonstração pública de ódio ter-se-ampliado (Waldron, 2010), favorecido pela explosão das redes sociais digitais que funcionam como uma câmara de ressonância, propagando e ampliando os seus efeitos; e radicalizando os conflitos da realidade social (Daniels, 2008). O suposto anonimato dos haters, a ausência de um interlocutor presencial e o isolamento no momento de construir raciocínios argumentativos favorecem o destilar de ódio nos posts, nas caixas de comentários, nos imojis, ou mesmo nos memes, prenhes de ironia. Com poucos cliques, é instalada uma situação de não reconhecimento em vasta escala, que ofende uma quantidade incontrolável de pessoas e que convoca outro semmero de internautas a perpetuar essa assimetria (Boyd, 2010).

Busso (2011) ao comentar o aumento desenfreado de manifestações de ódio nas redes sociais digitais refere que o efeito das narrativas do discurso de ódio é tanto mais quanto maior for o poder difusor do meio de veiculação. Já Baurin (2017) aduz que os haters utilizam as redes sociais para promoverem a sua causa odiosa e recrutar novos membros, recorrendo aos mais diversos expedientes como downloads gratuitos de música com mensagens cheias de ódio, jogos racistas, personagens de desenhos animados, imagens de pessoas mutiladas por questões raciais ou nacionalistas e mensagens direcionadas principalmente a jovens e crianças.

2.2. O discurso de ódio racista no futebol

No campo do desporto, e mais especificamente no futebol, o discurso de ódio racista e xenofónico começou a ter particular visibilidade a partir dos anos 70 do século passado e permanece até aos dias de hoje. Aliás, a história recente apresenta-nos diversos exemplos ilustrativos de como o discurso de ódio racista está bem presente (Doidge, 2017). Em 2013, o jogador médio Ganês do AC Milan – Kevin Boateng abandonou o campo em virtude dos insultos racistas de que foi alvo no último jogo da jornada. Em Fevereiro de 2020, Portugal assistiu ao caso de Marega, jogador do Futebol Clube do Porto e oriundo do Mali, que foi alvo de cânticos racistas e sons a imitar macacos por parte dos adeptos da equipa adversária.

O futebol, pelas suas peculiaridades apresenta duas faces de Janus e uma realidade altamente dialética, já que, se, por um lado, tem a capacidade de promover a coesão social, de reunir e agregar adeptos de diferentes culturas em celebração comum, por outro lado, pode estimular o preconceito, a discriminação e o etnocentrismo, fornecendo a base para formas extremas como é o caso do racismo (Woods & Ludvigsen, 2021). De resto, basta olharmos para algumas políticas e diretrizes de cotas para contratação de clubes e seleções nacionais de futebol por toda a Europa para percebermos o que acabou de ser aduzido. Por exemplo, em Espanha, o Atlético de Bilbao não contrata jogadores estrangeiros.

Naturalmente que com a explosão dos social media, estes incidentes perpassaram as quatro linhas e ganharam ressonância virtualmente, trazendo novas colorações, intensidades e duração à verbosidade do ódio, maioritariamente dirigido aos jogadores e aos treinadores dos clubes (Ben, David & Matamoros-Fernández, 2016). Para Newson (2017), trata-se de um meio e de uma ferramenta prática e de fácil acesso em que os internautas e, não raras vezes, comunidades compostas por organizações extremistas publicam, destilam e instigam a toxidade e o ódio, por detrás de uma existência relativamente clandestina e com um certo grau de impunidade. Millward (2016, p. 189) acrescenta que, no caso do futebol e do comportamento online dos seus adeptos, é urgente estudar e investigar os seus efeitos já que “sabe-se muito pouco sobre o impacto da internet e dos social media”. Em Portugal, os estudos exploratórios conduzidos por Di Fatima et al., (2021) e Miranda et al., (2021), apesar de identificarem a presença do fenómeno, não permitem ainda cartografar adequadamente os contornos deste fenómeno social.

Duran e Jiménez (2006) avançaram com uma proposta de tipologia para analisar as manifestações de racismo no futebol que, no entender dos investigadores, pode revelar-se de três formas distintas. O racismo instrumental, é um tipo de manifestação racional, consciente e deliberada direcionada para provocar os adeptos/treinador/equipa técnica e/ou seguidores das equipas em jogo. O racismo impulsivo, é um tipo de manifestação mormente emocional e pouco refletida, que tem, regra geral, origem na frustração, na insegurança e no desconhecimento de quem o profere. E o racismo institucional, acontece quando as normativas, os acordos e as práticas da organização desportiva dão lugar a baixos níveis de participação e atenção às minorias.

Certo é que, apesar de se tratar de um dos temas mais pulsantes da atualidade, e de existir parca bibliografia sobre o tema, denota-se uma considerável pressão política e social para se avançarem com políticas públicas e medidas para dirimir este tipo de discurso nos social media. Exemplo disso são as recomendações emanadas da ONU (Organização das Nações Unidas) aconselhando o reforço no seu conhecimento de forma a suportar respostas mais efetivas; ou mesmo o boicote de quatro dias às redes socias digitais, que foi levado a cabo por parte de várias instituições do futebol inglês, em 2021, em resultado do ataque cerrado com comentários racistas (incluindo imojis com macacos e bananas) que os jogadores negros Marcus Rashford, Jadon Sancho e Bukayo Saka foram alvo no Twitter e no Instagram durante o campeonato Europeu de 2020, impelindo as empresas de social media a desenvolverem um controle mais apertado aos comentários abusivos de ódio, como é o caso de maior filtragem, bloqueio e remoção rápida das publicações.

3. Método

A abordagem metodológica baseia-se em um raciocínio misto, quanti-quali, organizado em três momentos sequenciais: extração de dados, tratamento e análise de conteúdo. A amostra é formada a partir das fanpages oficiais dos 18 clubes da Primeira Liga – a principal competição do futebol profissional em Portugal. O Facebook é a rede social de maior penetração no país, sendo também a que os clubes agregam o maior número de seguidores e volume de publicações.

Os dados foram recolhidos automaticamente via Facebook Graph API, considerando os parâmetros do Facepager (Jünger & Keyling, 2019). A amostra original conta com 5.192 posts e 280 mil comentários dos fãs, realizados em três meses da Época 2020/2021, entre os dias 18 de setembro e 17 de dezembro de 2020. No conjunto, as publicações alcançariam 5,7 milhões de reações de fãs no Facebook.

A etapa seguinte consistiu em submeter os dados originais a um processo de tratamento. Para tanto, a equipa desenvolveu um algoritmo em Visual Basic para identificar expressões ou termos nos posts e comentários. Foram introduzidas 78 expressões no algoritmo de busca, sendo algumas das mais mencionadas na literatura em associação ao fenómeno do racismo: macaco, chinoca, favela, monhé, negro, gringo, barata, etc. O algoritmo identificou 6.651 comentários. A partir daí, o conteúdo foi lido e validado pela equipa para eliminar as possíveis ambiguidades: palavra como barata e negro podem ser escritas em muitos contextos. Apenas 422 comentários, ou seja, 0,15% da amostra original, estão diretamente associados ao racismo.

Os comentários associados aos discursos racistas foram lidos, avaliados e categorizados. A análise de conteúdo baseou-se em três categorias e as suas respetivas subcategorias (González & Martin, 2006): i) racismo impulsivo – com variáveis nacionalista, dirigido a outras etnias e regionalista; ii) racismo instrumental – com variáveis contra ou sobre estrangeiros, dirigido aos outros grupos étnicos, contra e sobre nacionais por região; iii) reações face a atitudes racistas – com variáveis de repúdio aos comentários.

É importante recordar que as técnicas da análise de conteúdo lidam com a contagem de frequências, apurando a regularidade com que as categorias e as subcategorias repetem-se numa amostra (Bardin, 2011). O objetivo era distinguir os tipos e os alvos de ataques nas páginas dos clubes, isto é, justamente contar a frequência do racismo impulsivo, instrumental e das reações face a atitudes racistas.

4. Análise e Discussão dos resultados

Todos os clubes de futebol que compuseram a Liga NOS na temporada 2020/2021 marcam presença nas redes sociais. Especificamente no Facebook estes 18 clubes congregam cerca de 12 milhões de seguidores das suas fanpages, valor que expressa claramente a mobilização e o impacto do futebol na sociedade portuguesa (atendendo a que este valor ultrapassa o da população de Portugal, estimada em cerca de 10,5 milhões de habitantes).

No período sob consideração, os primeiros meses da Época 2020/2021, estes clubes fizeram 5192 publicações no Facebook, que geraram sensivelmente 5,7 milhões de reações. Entre estas reações contam-se cerca de 280 mil comentários, que constituem, per se, elementos privilegiados para cartografar as expressões de ódio no discurso dos fãs destes clubes, em particular no que concerne ao racismo dirigido às diversas figuras ou entidades desportivas (como os jogadores, a equipa técnica, os dirigentes, os árbitros ou mesmo os clubes). Este conjunto de comentários constituiu a base a partir da qual o algoritmo em Visual Basic identificou 6651 comentários potencialmente racistas, que representam sensivelmente 2,4% do universo de comentários registados. Este ainda vasto conjunto de comentários foi subsequentemente alvo de validação humana, através da análise dos comentários identificados automaticamente. Com base nesta análise chegou-se a um conjunto final de 422 comentários diretamente associados ao racismo, correspondendo a 0,15% do universo. Importa referir que uma parte significativa (sensivelmente metade) dos comentários sob estudo provêm de adeptos do Sport Lisboa e Benfica (SLB).

Após a circunscrição da amostra, a etapa seguinte envolveu a análise de conteúdo dos comentários selecionados pela equipa de investigação como contendo elementos discursivos ligados ao racismo. Esta análise colocou em evidência três temas: racismo impulsivo, racismo instrumental e reações perante atitudes e comportamentos racistas. A distinção entre racismo impulsivo e racismo instrumental (proposta, entre outros, por González & Martin, 2006) resulta útil para a compreensão destas duas facetas deste fenómeno social, ao distinguir um racismo de cariz emocional e impulsivo (racismo impulsivo) de discursos e comportamentos racistas conscientemente transgressores e instrumentalmente direcionados contra pessoas ou grupos específicos (racismo instrumental). Os temas e as categorias identificados, bem como a sua frequência absoluta e número de likes gerado, são apresentados na Tabela 1.

A observação atenta da Tabela sugere um predomínio do racismo de cariz impulsivo, que congrega mais de metade dos indicadores examinados. Aduz-se que são os comentários racistas de natureza nacionalista e regionalista que apresentam uma maior expressão na amostra, enquanto o racismo dirigido a outras etnias (quer de caráter impulsivo quer instrumental), revela uma baixa frequência e menor adesão (dada pelo número de likes associado) por parte de outros fãs do clube.

Além dos três temas previamente identificados transpareceram nos comentários diversos aspetos ligados ao racismo no futebol que serão alvo de breve análise.

Tabela 1 -Temas e categorias registados na análise de conteúdo

Temas

Categorias

Frequência absoluta

Número de likes

Racismo impulsivo

Racismo impulsivo nacionalista

123

112

Racismo impulsivo dirigido a outras etnias

42

31

Racismo impulsivo regionalista

68

126

Racismo instrumental

Racismo instrumental nacionalista – contra estrangeiros

34

119

Racismo instrumental nacionalista – sobre estrangeiros

31

40

Racismo instrumental dirigido a outras etnias

7

14

Racismo instrumental regionalista – contra nacionais de outras regiões

19

48

Racismo instrumental regionalista – sobre nacionais de outras regiões

11

12

Reações face a atitudes ou comportamentos racistas

Repúdio perante atitudes ou comportamentos racistas

19

36

Exortação à atuação do clube perante manifestações de racismo

4

13

4.1. Racismo impulsivo

Dos 422 comentários retidos como racistas, 233 comentários (55,2% do total) traduzem a existência de racismo impulsivo, sugerindo a prevalência desta manifestação discursiva que traduz um racismo espontâneo, emocional e à “flor da pele”, na amostra sob análise. Nas páginas oficiais de Facebook dos clubes de futebol da Liga NOS, os comentários dos adeptos associados a esta forma de racismo traduzem manifestações emocionais e impulsivas espontâneas de caráter nacionalista, regionalista e versus indivíduos de outras etnias, sendo as duas primeiras categorias aquelas que apresentam uma maior expressão no conjunto de comentários categorizados sob a égide do racismo impulsivo.

O número de reações dado pelo conjunto de likes (n=269) elicitado pelos comentários que traduzem racismo impulsivo sugere que estes colhem algum tipo de apoio junto de outros adeptos. Os resultados sugerem ainda que são os comentários racistas de cariz impulsivo regionalista que geram um maior número de interações, reforçando e amplificando os ecos fraturantes de uma clivagem entre o norte e o sul de Portugal, que também no futebol se torna manifesta.

O racismo impulsivo nacionalista, que apresenta a maior frequência (123 indicadores) no conjunto de comentários categorizados como traduzindo racismo impulsivo, é sobretudo dirigido aos jogadores de nacionalidade brasileira e a Jorge Jesus, o treinador do SLB na temporada 2020/2021. Com efeito, a maioria dos comentários aduzidos neste âmbito provém de adeptos do SLB descontentes com as opções do treinador para o plantel (por entenderem que este privilegiava jogadores brasileiros) e com a performance dos jogadores brasileiros do SLB nos jogos da Liga NOS, como se regista nestes indicadores:

“Cebolinha volta pro Brasil” (adepto do SLB)

“Está equipa é uma vergonha, treinador horrível #foraJJ volte para os brazucas de onde você nunca deveria ter voltado” (adepto do SLB)

Com uma baixa frequência (8) encontramos ainda comentários que traduzem racismo nacionalista dirigido contra adeptos e jogadores angolanos e guineenses.

Isto é ó marítimo de angola ou Guiné? veijo que também já contratao jogadores europeus assim é que deve de ser não é só os europeus a ir buscar africanos. ja é tempo dos africanos dar oportunidades aos jogadores europeus assim é que deve ser” (adepto do Club Sport Marítimo)

O caráter regionalista identificado neste tema apresenta igualmente uma elevada expressão no total de comentários categorizados como racismo impulsivo, somando 68 indicadores (16,1% do total de comentários racistas). Esta subcategoria traduz em certa medida regionalismos ainda presentes na sociedade portuguesa, onde são visíveis algumas clivagens entre o norte e o sul de Portugal. Os comentários assinalados como apontando para um racismo impulsivo regionalista são provenientes de adeptos de clubes nortenhos e dirigem-se globalmente a fãs e indivíduos ligados a clubes de futebol do centro e sul do país (em particular clubes de futebol lisboetas), apelidando-os de “mouros”, como é visível nos seguintes excertos:

“ parabéns nunca vi a jogar assim amei a derrota dos mouros para ser sicera julgavaque era outra derrota mas fiqui se boca aberta parabéns” (adepto do Boavista Futebol Clube - BFC)

“Aquela meia final contra os mouros Foi...” (adepto do Sporting Clube de Braga - SCB)

“Tem mouros ainda com muita azia kkkkkk” (adepto do Futebol Clube do Port - FCP)

Ainda enquadrado no racismo impulsivo encontramos o racismo dirigido contra indivíduos de outras etnias. Este afigura-se como o tipo de racismo impulsivo que menos referências (42) acolhe por parte dos fãs destes clubes no Facebook, sendo maioritariamente dirigido versus indivíduos negros (31) ou de etnia cigana (6), como é visível nos seguintes testemunhos:

“Eu sou racista com os jogadores do Porto! É só pretos esfomeados” (adepto do SLB)

“Hoje é para ganhar contra estes ciganos” (adepto do FCP)

4.2. Racismo instrumental

A análise de resultados sugere adicionalmente a presença de um discurso dos fãs que é construído, de forma consciente, intencional e instrumental, para ser seletivamente dirigido contra pessoas ou grupos específicos. Foram identificados 102 comentários inscritos neste tipo de racismo, que de acordo com González e Martin (2006), identificamos como racismo instrumental.

Surgem aqui diversas configurações “Us versus Them” que, tal como acontece no caso do racismo impulsivo, assumem um caráter nacionalista, regionalista ou são direcionadas contra indivíduos de outras etnias. A análise dos resultados evidencia que, tal como no racismo impulsivo, os indicadores com maior expressividade estão associados ao racismo instrumental nacionalista e regionalista. Dadas as nuances deste conjunto discursivo e com o fito de aprofundar a compreensão acerca dos contornos do racismo nas redes sociais digitais aplicámos neste caso a dicotomia apresentada por Van Dijk (2004), que distingue duas formas de racismo a) o que é dirigido contra outros e b) o que é sobre outros.

Antes de caraterizar e examinar detalhadamente os vários tipos de racismo instrumental identificados nos comentários sob estudo, é relevante analisar o número de reações (n=233) que lhes está associado. O racismo instrumental nacionalista é aquele que suscita maior número de likes (n=159). Em termos comparativos constata-se que embora o número de comentários ligados ao racismo instrumental tenha uma menor expressão na amostra, o apoio a estas declarações claramente instrumentalizadas colhe um apoio significativamente maior da audiência do que se verifica nos comentários inscritos no racismo impulsivo. Nesse sentido, os discursos racistas enquanto expressões instrumentalizadas do coletivo tornam-se mais visíveis, gerando uma maior interação e um certo engagement, em particular quando são intencionalmente dirigidos a indivíduos de outras nacionalidades ou a figuras desportivas que parecem valorizar desportistas estrangeiros em detrimento dos futebolistas portugueses.

Uma análise mais detalhada acerca do racismo ligado a nacionalismos indica que o racismo instrumental dirigido contra indivíduos específicos ou grupos apresenta uma frequência apenas ligeiramente superior (n=34) ao racismo instrumental sobre indivíduos ou grupos (n=31). No primeiro predominam os comentários racistas contra o treinador e os jogadores (em particular contra jogadores de nacionalidade brasileira), embora outras figuras que se movimentam no contexto futebolístico, como os árbitros, os treinadores de outros clubes de futebol, outros adeptos ou mesmo outros clubes de futebol sejam igualmente alvo desta forma de racismo, como é visível nestes comentários:

“E eu a pensar que o meu clube era de Portimão, afinal mudamos de sede para a Malásia. Será que as blusas também vão começar a ser mais baratas?” (adepto do Portimonense Sporting Clube - PSC)

“A escola de samba, SLB, lá marcou por um penalti. Isto é uma equipe maravilha. A escola de samba, teve 6 brasileiros em campo e todos uma maravilha. Parece que não fica por aqui, pois já se consta que o porta bandeira, JJ, quer um guarda redes e um defesa central, todos brasileiros.” (adepto do SLB)

No discurso racista instrumental nacionalista sobre estrangeiros é visível uma descrição negativa ou uma atribuição de caraterísticas e traços negativos aos jogadores de uma equipa ou ao treinador. Neste caso específico trata-se do treinador do SLB, que embora de nacionalidade portuguesa é percebido por estes adeptos como preferindo e valorizando os jogadores estrangeiros em detrimento dos seus congéneres portugueses:

“Este Portimonense está entregue à bicharada, e não só brasileiros na equipa não há um jogador de referência, os brasileiros vêem para cá só atrás do dinheiro e estão se lixando se o clube desce ou se é eliminado da taça, são mercenários do futebol” (adepto do PSC)

“Que treinador tão fraco. Tão limitado. Deve pensar que ainda está nos campeonatos árabes e brasileiros.” (adepto do SLB)

No tocante ao racismo instrumental regionalista um dado relevante é dado pelo número de comentários contra indivíduos portugueses de outras regiões (19), mormente do sul do Portugal (apelidados pelos nortenhos de “mouros”), que é quase o dobro dos comentários existentes sobre estes indivíduos (11). Este tipo de comentários racistas é quase exclusivamente produzido por adeptos de clubes de futebol do norte de Portugal, sendo manifestamente dirigido contra os adeptos de Lisboa e da região sul (não tanto acerca destes, mas sim contra estes). Estes comentários parecem reforçar uma demarcação entre o norte e o sul de Portugal que, embora ocorra num contexto futebolístico, traduz um afastamento e uma visão estereotipada face a indivíduos de outras regiões que pode estender-se a outros domínios societais. Eis algumas unidades de análise exemplificativas:

“pensei que o treinador ia finalmente abrir os olhos e perceber o quão vulgar este Nuno Santos é, mas pronto, deve ter algo no contrato que o obriga a jogar por ter vindo dos mouros (adepto do BFC)

“Muitos mouros aqui e cheira mal” (adepto do FCP)

Com uma baixa expressividade na amostra (n=7) encontramos ainda um terceiro tipo de racismo instrumental, no caso dirigido contra indivíduos de outras etnias, sejam estes jogadores, presidentes da SAD ou mesmo o primeiro-ministro de Portugal. Os indivíduos negros são aqui particularmente visados. Veja-se os seguintes indicadores:

“bonito bonito é o mestiço do presidente da SAD andar por Portimão a passear de Lamborghini e Jaguar com os milhões do Tabata” (adepto do PSC)

“Por isso és preto a inteligência não tens aqui é Portugal que está em causa tu não o és portanto” (adepto do SLB)

4.3. Reações face a atitudes ou comportamentos racistas

A terceira categoria de análise sugere que as manifestações de racismo não colhem apenas aceitação ou mesmo apoio por parte de fãs futebolísticos que seguem o seu clube nas redes sociais. Pelo contrário, uma parte dos adeptos pronuncia-se desfavoravelmente quando se depara com comentários de teor racista. A análise realizada permitiu identificar 23 comentários desta natureza, que indicam que estas reações assumem duas formas distintas: o repúdio claro perante atitudes e comportamentos racistas ou a exortação à atuação do clube perante manifestações de racismo. Nas redes sociais, o repúdio dos fãs parece ser mais evidente (19 comentários), que o apelo à ação do clube (4). Praticamente todos os indicadores incluídos nesta categoria, com exceção de um comentário, provém de adeptos do SLB e parecem surgir sobretudo como uma reação a intervenções do treinador Jorge Jesus nos media. Também se verifica, embora com uma reduzida expressão, o repúdio perante atitudes e/ou comportamentos racistas manifestados por adeptos (2 comentários) e por árbitros (1 comentário). Eis alguns dos comentários:

“Vergonha. Ter um treinador tão arrogante, machista, racista no meu Benfica, em que não põe a equipa a jogar bola. Vergonha.” (adepto do SLB)

“JJ devia pedir desculpa pela barbaridade que disse hoje sobre racismo.” (adepto do SLB)

“Alguém k meta mão ,,,no k estão a fazer as nossas “meninas “vergonhoso o k se está a passar ...foi em Famalicão ,, é na Madeira ....tem k ser castigados e castigadas o racismo não faz parte do desporto nem da sociedade ,,,está arbitra não pode apitar mais jogos do Sport Lisboa e Benfica ....não brinquem com as atletas não brinquem com o seu trabalho,,,com o seu profissionalismo ....chega ....basta é altura de meter mão nisto e acabar com esta pouca vergonha” (adepto do SLB)

Sport Lisboa e Benfica espero que alguem do departamento da comunicaçao do clube venha pedir desculpa pela vergonhosa resposta a uma pergunta sobre o racismo. O racismo nao é um problema de moda ! Ou é preciso lembrar que o clube nao se identifica com estas declaraçoes ! (adepto do SLB)

Os indicadores englobados nesta categoria sugerem que parece verificar-se uma certa reatividade dos adeptos a manifestações de natureza racista, mas sem um fito específico em vista, surgindo sobretudo como expressões de desconforto, repulsa, desagrado ou vergonha ou, num número limitado de casos, a apelar diretamente à intervenção da direção ou do departamento de comunicação do clube. Em última análise, este conjunto de comentários revela que uma parte dos adeptos se demarca de uma representação do desporto-rei manchada por discursos de ódio, em particular por discursos racistas. Surge ainda como relevante constatar que estas reações perante manifestações de racismo no futebol encontram apoio e mobilizam, em certa medida, outros adeptos, como é visível pelo número de likes que suscitaram (n=49).

Adicionalmente emergem diversos outros fatores ligados ao racismo, em que se englobam aspetos tão distintos como o uso de termos ou expressões conotados com racismo (com 35 comentários registados), o receio dos próprios adeptos serem rotulados como racistas (4 comentários) ou a heteroperceção acerca do racismo no futebol (2 comentários).

Para finalizar, destacamos três aspetos desta análise. O primeiro concerne à muito baixa expressividade de comentários de natureza racista no total da amostra, resultado que difere das conclusões de estudos recentes, que sugerem o crescimento dos discursos de ódio nas redes sociais oficiais dos clubes de futebol. O segundo diz respeito ao peso dos comentários racistas impulsivos na amostra sob estudo (cerca de 55% do total). Este resultado evidencia a elevada volatilidade e emocionalidade de que este discurso se reveste no Facebook. No entanto, os resultados também mostram que importa atender a que a intencionalidade não está arredada destas reações e que o discurso nas redes sociais também surge instrumentalizado para ser dirigido contra indivíduos e grupos. O terceiro e último aspeto remete para o apoio junto de outros fãs. Embora apenas uma pequeníssima parcela dos comentários dos adeptos de futebol no Facebook possa ser categorizada como racista, isso não significa que devamos menorizar esta questão no contexto português. Com efeito, os apoios a comentários racistas traduzidos em likes colhem, em média, mais apoios do que comentários gerais acerca do clube e das figuras desportivas (e.g., DiFátima, Miranda, Antunes & David, 2021). Nesse sentido, este resultado sugere que as práticas discursivas racistas no futebol são apoiadas e difundidas, atingindo e envolvendo mais indivíduos do que aqueles que inicialmente as proferem.

Conclusões

Na contemporaneidade, as manifestações de racismo no futebol têm-se adaptado às mudanças sociais, de normas culturais e à evolução tecnológica. Todavia, os avanços tecnológicos não se limitaram a este exercício de influência; com efeito, o surgimento dos social media forneceu um novo território digital onde a expressão do racismo não só pode ter lugar como encontra eco e amplificação, permitindo a sua disseminação com um alcance inaudito. Apesar dos esforços dos investigadores em acompanhar esta tendência e aprofundar a compreensão acerca das manifestações de racismo na arena digital e dos seus correlatos, existem ainda lacunas no conhecimento acerca deste fenómeno social e da sua expressão nas redes sociais digitais. Em Portugal, os estudos exploratórios (e.g., Di Fatima et al., 2021; Miranda et al., 2021) desenvolvidos até à data não permitem ainda cartografar adequadamente este fenómeno. A presente pesquisa visa aprofundar o conhecimento acerca do racismo no futebol no contexto português, mais concretamente nas páginas oficiais do Facebook dos clubes que compuseram a Primeira Liga na temporada de 2020/2021.

Podem ser retiradas três conclusões com base neste estudo. A primeira refere-se à muito baixa prevalência de comentários no Facebook que estejam diretamente associados ao racismo por parte dos adeptos dos clubes, contrariamente ao identificado na literatura. Todavia, tal não significa que não haja motivos para preocupação. Estes comentários colhem mais apoio do que os comentários gerais dos adeptos acerca do clube e das figuras desportivas (e.g., Di Fátima et al., 2021), disseminando-se na rede, pelo que o seu alcance pode mais ser significativo na esfera pública do que a sua escassa prevalência leve a pressupor. Outra conclusão releva dos dois movimentos distintos identificados na análise: se por um lado assistimos à presença de manifestações discursivas racistas de cariz impulsivo e instrumental, em simultâneo e num movimento antitético, emerge um conjunto de comentários de repúdio, desconforto, desagrado ou vergonha face às expressões de racismo e um apelo ou mesmo exortação à atuação dos clubes de futebol e dos seus órgãos para travar estas manifestações de racismo. Adicionalmente e a par da presença de comentários racistas impulsivos ou instrumentais de caráter nacionalista ou dirigidos contra indivíduos de outras etnias, a análise de conteúdo permite concluir que estamos na presença de um terceiro tipo de racismo, ligado a regionalismos, que emerge pela primeira vez na literatura neste campo.

Apesar dos contributos deste estudo, este não é desprovido de limitações. Desde logo, uma primeira limitação resulta do facto de terem sido somente examinados comentários relativos a um período de três meses na temporada 2020/2021 na Primeira Liga. A análise futura de períodos mais alargados e noutras temporadas permitirá traçar um panorama mais completo e menos sujeito a alterações conjunturais (como as decorrentes da pandemia por Covid-19). É relevante ter em atenção que, durante o período em análise, cerca de metade dos comentários racistas no Facebook foram produzidos por adeptos benfiquistas e estes são focados, em grande medida, no treinador e nas suas opções de plantel. Tal pode ter introduzido enviesamentos na amostra, que outras pesquisas podem ultrapassar. Adicionalmente, entre as potenciais linhas de investigação futura perfilam-se a análise das reações dos adeptos nas páginas oficiais dos clubes noutras redes sociais ou, atendendo ao sistema de ligas de futebol português, um enfoque em clubes da Segunda Liga ou da Terceira Liga (envolvendo ou não uma análise comparativa entre os clubes das diferentes divisões). Estudos transculturais europeus podem ser de mais-valia para examinar o papel da cultura nas expressões de racismo no futebol nos social media.

Globalmente, este estudo contribui para uma maior compreensão e mapeamento deste fenómeno no contexto português, bem como para o desenvolvimento de políticas que diminuam ainda mais a sua prevalência. Permite igualmente ressaltar que este fenómeno se reveste de especificidades e caraterísticas únicas em diferentes países, o que nos leva a fazer um apelo aos investigadores para um maior investimento académico na área.

Agradecimentos/Financiamento

Esta investigação foi financiada pelo IDICA21. Referência: IPL/2021/SocialHate_ESCS.

Referencias

Abbott, A. (2016). Processual Sociology. Chicago, US: University of Chicago Press.

Alkiviadou, N. (2019). Hate speech on social media networks: towards a regulatory framework? Information & Communications Technology Law, 28(1), 19-35. DOI: https://doi.org/10.1080/13600834.2018.1494417

Arendt, H. (2014). Homens em tempos sombrios. São Paulo: Companhia das Letras.

Barabasi, A. (2017). Network science. Cambridge: Cambridge University Press.

Ben-David, A., & Matamoros-Fernández, A. (2016). Hate speech and covert discrimination on social media: Monitoring the Facebook pages of extreme-right political parties in Spain. International Journal of Communication, 10(2016), 1167-1193.

boyd, D. & Crawford, K. (2012). Critical questions for big data. Information, Communication & Society, 15(5), 662-679.

Cabral, A., & Lima, N. (2018). Interações conflituosas e violência verbal nas redes sociais. Lisboa: Polimica.

Castells, M. (2007). A sociedade em rede. A era da informação: Economia, sociedade e cultura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

Costa, P. (2020). Uma cartografia do ódio. Comunicação Pública, 15(29), 13-27.

Di Fatima, B., Miranda, S., Antunes, A. & David, A. (2021). Cartografia do ódio em rede – o futebol Português em tempos de pandemia - mesa Sociologia do Desporto, XI Congresso Português de Sociologia, 30 de março, online.

Doidge, M, (2017). Racism and european football. In J. Nauright and D. Wiggins (Eds.), Routledge handbook of sport, race and ethnicity. London, UK: Routledge: 174-185.

Duran, J. & Jiménez, J. (2006). Futbol y Racismo:un problema cientifico y social. International Journal of Sport Science, II(3). 68-94.

Fernandes, P. (2019, 14 de outubro). A cultura de ódio. Observador. Disponível em: https://observador.pt/opiniao/a-cultura-de-odio/ [Acedido em outubro, 30, 2019].

González, J. D., & Martín, P.J.J. (2006). Fútbol y Racismo: un problema científico y social. (Soccer and Racism: a scientific and social problem.). RICYDE. Revista Internacional de Ciencias del Deporte, 2(3), 68–94. http://dx.doi.org/10.5232/ricyde2006.00305

Jenkins, H. (2009). Cultura da convergência. São Paulo: Aleph.

Jünger, J. & Keyling, T. (2019). Facepager. An application for automated data retrieval on the web. [Software]. Github.

Levallois, C. & Totet, M. (2017). Twitter Streaming Importer. [Software]. Github.

Mandeville, B. (1715). A fábula das abelhas, vícios privados, benefícios públicos. Brasilia, UNESP.

Miranda, S., Gouveia, C, David, A, Antunes, A & Di Fatima, B. (2021). The many faces of racism on football: An analysis of the Facebook pages of Portuguese football clubs. Panel Football and its worlds, ESA Research Network – Sport and crisis: Bodies, practices and representations, 26th March, online.

Newson, M. (2017). Football, fan violence, and identity fusion. International Review for the Sociology of Sport, 54(4), 431-444, doi: https://doi.org/10.1177/1012690217731293

Pereira-Kohatsu, J.C. et al. (2019). Detecting and Monitoring Hate Speech in Twitter. Sensors, 11/06/2021 submissão.html file:///Users/sandramiranda/Desktop/IDICA21/submissão.html 8/8 19(21), 1-37. DOI: https://doi.org/10.3390/s19214654

Rogers, R. (2013). Digital methods. Cambridge: The MIT Press.

Santos, M. (2016). O discurso de ódio nas redes sociais. São Paulo: Lura Editorial.

Silva, R., Nichel, A., Martins, A. C. L., & Borchardt, K (2011). Discursos de ódio em redes sociais: Jurisprudência brasileira. Revista Direito GV, 7(2), 445-468.

van Dijk, T. (2004). Racist discourse. In E. Cashmore (Ed.), Encyclopedia of Race and Ethnic Studies (pp. 351-355). Routledge.

van Dijk, Teun A. (2012). The Role of the Press in the Reproduction of Racism. In Messer M., Schroeder R., Wodak R. (eds) Migrations: Interdisciplinary Perspectives. Vienna: Springer.

Vigna, F.D. et al. (2017). Hate me, hate me not: Hate speech detection on Facebook. In: Proceedings of the First Italian Conference on Cybersecurity (ITASEC17), pp. 86-95.

Woods, J., & Ludvigsen, J. (2021). The changing faces of fandom? Exploring emerging ‘online’ and ‘offline’ fandom spaces in the English Premier League, Sport in Society, 1-16, doi: https://doi.org/10.1080/17430437.2021.1904902