Educação por meio de textos e imagens: análise semiótica de um livro didático utilizado nas escolas do município de Ascurra (SC) – Brasil

Education through texts and images: semiotic analysis of a textbook used in schools in the city of Ascurra (SC) – Brazil

Educación a través de textos e imágenes: análisis semiótico de un libro de texto utilizado en escuelas de la ciudad de Ascurra (SC) – Brasil

Rafael José Bona

Universidade Regional de Blumenau

Universidade do Vale do Itajaí

E-mail: rbona@furb.br

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2116-2407

Laura Seligman

Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

E-mail: laura.s@ufms.br

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4160-2860

Nicole Ramos da Cunha

Universidade do Vale do Itajaí

E-mail: nicolecunha@edu.univali.br

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7332-3957

DOI: 10.26807/rp.v27i116.2008

Resumo

O presente artigo investiga a narrativa de um livro didático utilizado no município de Ascurra, no estado de Santa Catarina, no Brasil, a respeito da história do município e seus fundadores. O problema de pesquisa parte de indagações de como se dão as relações entre texto e imagem no material educativo e a história local. Para o estudo, foram selecionadas imagens e analisadas por meio da semiótica, conforme sugere Joly (2012). Os resultados confirmam os pressupostos de uma narrativa histórica local que enaltece as personagens do passado, imigrantes europeus que construíram o município, reforçando valores morais conservadores como o trabalho, a união comunitária, o casamento e a família.

Palavras – Chaves: Educação; Comunicação; Livro Didático; Semiótica.

Abstract

This article investigates the narrative of a textbook used in the municipality of Ascurra, in the state of Santa Catarina, Brazil, regarding the history of the municipality and its founders. The research problem stems from questions about how the relationship between text and image in educational material and local history takes place. For the study, images were selected and analyzed using semiotics, as suggested by Joly (2012). The results confirm the assumptions of a local historical narrative that praises the characters of the past, European immigrants who built the municipality, reinforcing conservative moral values such as work, community union, marriage and family.

Keywords: Education; Communication; Textbook; Semiotics.

Resumen

Este artículo investiga la narrativa de un libro de texto utilizado en el municipio de Ascurra, en el estado de Santa Catarina, Brasil, sobre la historia del municipio y sus fundadores. El problema de investigación parte de cuestionamientos sobre cómo se da la relación entre texto e imagen en el material educativo y la historia local. Para el estudio, las imágenes fueron seleccionadas y analizadas utilizando la semiótica, como lo sugiere Joly (2012). Los resultados confirman los presupuestos de una narrativa histórica local que exalta a los personajes del pasado, inmigrantes europeos que construyeron el municipio, reforzando valores morales conservadores como el trabajo, la unión comunitaria, el matrimonio y la familia.

Palabras clave: Educación; Comunicación; Libro de texto; Semiótica.

Introdução

Os livros didáticos (LD) têm sido utilizados há muitas décadas no processo de ensinar e aprender nas escolas de todo o país. Segundo Freitas e Rodrigues (2019, p. 300), o LD possui “missão de atuar como mediador na construção do conhecimento. [...] O livro, por meio de seu conteúdo, mas também de sua forma, expressa em um projeto gráfico, tem justamente a função de chamar a atenção, provocar a intenção e promover a leitura”.

Nesse contexto, no município de Ascurra, pertencente à região do Médio Vale do Itajaí no estado de Santa Catarina, sul do Brasil, tem se utilizado um LD para contar a história do município por meio de imagens e textos numa obra educativa intitulada História de Ascurra para a sala de aula, de autoria do historiador Gabriel Dalmolin. Ascurra é um município com aproximadamente 8.021 habitantes (IBGE, 2021), com população, em sua maioria, descente de imigrantes italianos que chegaram à região por volta da década de 1870. Sua emancipação ocorreu em 7 de abril de 1963 e tem se destacado pela agricultura, com a rizicultura sendo uma das principais atividades econômicas do município.

Em Ascurra, a cultura dos descendentes de italianos é bastante presente no cotidiano dos habitantes. Muitos deles ainda falam o talian, uma variante linguística do italiano. Em outubro de 2022, conforme publicação oficial da Prefeitura Municipal (Ferrari, 2022), o prefeito Arão Josino da Silva sancionou uma lei ordinária (número 1674) instituindo o ensino da língua italiana nas escolas municipais a partir de 2023. O livro didático do município, que será lançado nesse período, foi escolhido de forma intencional por fazer parte de uma pesquisa maior que envolve as tecnologias digitais e a formação de professores locais a partir do LD. O problema de pesquisa parte de indagações de como se dão as relações entre texto e imagem no material educativo e a história local. Alguns questionamentos se tornam pertinentes como: de que forma são apresentadas as mensagens educativas na relação texto e imagem no livro didático História de Ascurra para a sala de aula? Em que medida podemos categorizar os contextos didáticos da obra? Como são apresentadas as mensagens plásticas, icônicas e linguísticas por meios dos signos?

Estudos como os de Fredella & Zecca (2020), averiguam a importância do estudo da história local na escola. As crianças se sentem mais motivadas para estudar ao refletirem os conteúdos dos livros com suporte de mídia com textos e imagens, por exemplo. Conteúdo sobre a história local, segundo as autoras, faz a criança desenvolver um orgulho de preservação do patrimônio e a faz sentir-se ativa nesse processo educativo e exercer a cidadania.

Dentro desse contexto surgiu o objetivo deste artigo que é o de analisar o livro didático História de Ascurra para a sala de aula por meio dos signos entre texto e imagem e suas relações educativas. Seus objetivos específicos são: (i) analisar as mensagens plásticas, icônicas e linguísticas do LD; e (ii) promover reflexão sobre o ensino da história do município de Ascurra por meio do LD.

Semiótica e análise das imagens

A semiótica faz parte de uma ampla gama de estudos, aqui tomados sob a lógica do estadunidense Charles Sanders Peirce (1839-1914). Sua base é a fenomenologia, na qual são investigadas todas as coisas e como elas são registradas em nossa mente, desde um simples odor ao barulho da chuva. De certo modo, a semiótica tem por objetivo analisar toda a produção e processos dos signos existentes (Santaella, 2018).

Qualquer coisa que esteja presente à mente tem a natureza de um signo. Signo é aquilo que dá corpo ao pensamento, às emoções, às reações etc. Por isso mesmo, pensamentos, emoções e reações podem ser externalizados. Essas externalizações são traduções mais ou menos fiéis de signos internos para signos externos (Santaella, 2018, p. 10).

Ao analisar um vídeo sobre educação ambiental acerca do desmatamento da Amazônia, Santaella (2018, p. 9), pontua que a peça não deixa de ser um signo que tem por objeto aquela região retratada na obra. Os efeitos que o vídeo pode provocar em seus espectadores é considerado um interpretante do signo. Assim “os efeitos interpretativos dependem diretamente do modo como o signo representa seu objeto”. Joly (2012, p. 21), pontua que “embora os signos possam ser múltiplos e variados, todos teriam, segundo Peirce, uma estrutura comum que implica essa dinâmica tripolar, que vincula o significante ao referente e ao significado”.

Santaella & Nöth (2013), abordam a semiótica da imagem e como essa pode se manifestar em diferentes plataformas. Segundo os autores, “as imagens podem ser observadas tanto na qualidade de signos que representam aspectos do mundo visível quanto em si mesmas, como figuras puras e abstratas ou formas coloridas” (Santaella & Nöth, 2013, p. 39). Para Joly (2012), uma imagem sempre vai depender da produção de um sujeito e essa pode ser apenas imaginária ou concreta; todavia, uma imagem sempre passará por uma pessoa que produz ou reconhece essa imagem.

Peirce define o signo fotográfico como respeito à sua relação com o objeto (secundidade do signo), por um lado, como um ícone; por outro, como índice. E assim que fotos são, “de certo modo, exatamente como os objetos que elas representam e, portanto, icônicas. Por outro lado, elas mantêm uma ‘ligação física’ com seu objeto, o que as torna indexicais, pois a imagem fotográfica é obrigada fisicamente a corresponder ponto por ponto à natureza” (CP 2.281). (Santaella & Nöth, 2013, p. 112).

Ao discutir sobre a análise das imagens na área das Ciências Humanas, Joly (2012), aponta que, geralmente, usam-se fotografias para construir a imagem de alguém; sempre com o objetivo de provocar associações mentais que servirão para identificar a pessoa ou o objeto ali retratado e “atribuindo-lhes um certo número de qualidades socioculturalmente elaboradas” (Joly, 2012, p. 21).

A partir da análise de uma imagem publicitária da marca de cigarro Marlboro, Joly (2012), exemplifica de que forma é possível analisar uma imagem sob a ótica de três mensagens: a plástica, a icônica e a linguística. Antes de tudo deve-se descrever a imagem para, em seguida, fazer-se a análise da mensagem nela contida.

Tudo o que fizer parte de um signo visual é considerado uma mensagem plástica, que a compõe. Seus signos são mais perceptíveis e se constituem por elementos como o enquadramento, composição, cores, formas, iluminação etc. A mensagem icônica se refere a sua representação por intermédio de um processo em que um signo está aí para representar outro signo; algo que remete a algo. É o que a imagem tenta passar ao público. Por fim, a mensagem linguística que está atrelada à ancoragem entre a mensagem central e a linguagem escrita que está explícita na imagem. Por meio dela, é possível comunicar um resumo do contexto (Joly, 2012). A autora afirma que a imagem é “instrumento de comunicação, divindade, a imagem assemelha-se ou confunde-se com aquilo que ela representa. Visualmente imitadora, pode tanto enganar como educar” (Joly, 2012, p. 19).

Um signo mantém uma relação solidária entre pelo menos três polos: “a face perceptível do signo – representamen ou significante (St); aquilo que representa: objeto ou referente; e aquilo que significa: interpretante ou significado (Sd)” (Joly, 2012, p. 33).

Procedimentos e análise

A pesquisa se classifica como documental e descritiva, de abordagem qualitativa e se utiliza da análise semiótica, por meio de Joly (2012), que observa a imagem a partir de três dimensões analíticas: mensagens plásticas, icônicas e linguísticas. A autora utiliza elementos da semiótica e da semiologia para compreensão do processo de significado das imagens, principalmente nas imagens publicitárias. Nesse sentido, adapta-se a metodologia analítica de Joly para as imagens e textos do LD. Joly (2012, p. 40), defende que “a categoria da imagem reúne então os ícones que mantêm uma relação de analogia qualitativa entre o significante e o referente. Um desenho, uma foto, uma pintura figurativa, retomam as qualidades formais do seu referente: formas, cores e proporções que permitem o seu reconhecimento”. Para a amostragem foram selecionadas, de forma aleatória, quatro imagens de cada uma das quatro unidades totalizando 16 imagens do LD História de Ascurra para a sala de aula.

Análise imagética do livro didático História de Ascurra para a sala de aula

Unidade 1 – A origem do povoado de Ascurra

A unidade traz o conceito inicial do livro, desde os antecedentes da imigração até as migrações internas. Por se tratar de um período inicial da fotografia, a maior parte das imagens é composta por ilustrações ou reproduções escaneadas de imagens originais. Por meio disso, a unidade utiliza mapas e ilustrações representativas de conceitos apresentados no capítulo e fotografias de acervos. O conjunto de imagens produzidas em diferentes formatos permite uma caracterização mais abrangente e didática da origem do povoado de Ascurra.

A primeira imagem selecionada é ilustrada e possui um texto convidativo prometendo muita fartura e cidades já construídas aos imigrantes.

QUADRO 1: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 1 – In américa

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Navio.

Meio de transporte.

Como os imigrantes europeus chegavam ao Brasil.

Mar.

Água.

Meio de transporte; navegações.

Bandeira.

Emblema.

Símbolo patriota.

Ponte.

Estrutura arquitetônica.

Construção urbana de alto escalão.

Fonte: dados da pesquisa.

Na imagem, que é publicitária, juntamente com uma ilustração, existe uma série de promessas àqueles que são considerados público-alvo. Com essas palavras, buscava-se passar uma imagem convidativa para os europeus, a fim de conseguir atraí-los para colonizar o interior do Brasil e substituir a mão de obra escrava nos centros urbanos.

A segunda imagem selecionada representa os alojamentos destinados aos imigrantes no Brasil Colônia.

QUADRO 2: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 2 – Barracão

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Barracões.

Moradia temporária.

Alojamentos aos imigrantes.

Árvores.

Natureza.

Elementos da terra natural.

Fonte: dados da pesquisa.

A terceira imagem é uma representação gráfica do estado de Santa Catarina, com delimitações de municípios. Em vermelho, como destaque, está o município de Ascurra, no Vale do Itajaí.

QUADRO 3: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 3 – Mapa

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Mapa do Brasil.

Representação gráfica.

Com o intuito de localizar o leitor para a posição de Ascurra, o mapa possui no canto inferior esquerdo uma representação gráfica do Brasil, com ênfase em Santa Catarina.

Mapa de Santa Catarina.

Representação gráfica.

Com delimitações de municípios.

Fonte: dados da pesquisa.

A quarta imagem é uma fotografia demonstrando um grupo de pessoas com vestimentas típicas de uma classe social elevada.

QUADRO 4: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 4 - Casamento

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Casa.

Moradia.

Casa do migrante Massimino Girardi, imigrante polonês que partiu de Ascurra para Ribeirão Penca, em Santa Maria.

Noivos.

Conceito Social.

O objetivo dessas uniões era garantir proteção em terras desconhecidas e conservar patrimônio material e cultural dessas famílias.

Pessoas.

Famílias.

Os pioneiros nas migrações para o atual distrito de Santa Maria (Benedito Novo)

Moto.

Meio de transporte.

Forma de deslocamento de pessoas e materiais pelo espaço.

Fonte: dados da pesquisa.

Unidade 2 – A religiosidade e a sobrevivência

A unidade 2 conta um pouco sobre a religiosidade da comunidade em Ascurra. Dentro de seus capítulos, a história religiosa é demonstrada por meio de escolas, igrejas, e até mesmo nos ambientes de trabalho. Dentro das imagens dessa unidade, é possível perceber a variedade de fotografias em preto e branco, de acordo com a época. Com as imagens em pose ao estilo retrato, é possível perceber o orgulho da população em momentos dentro do período e a necessidade de capturar esses tempos para futuras gerações.

A primeira imagem selecionada nessa unidade é uma fotografia de acervo, em preto e branco, com sinais de envelhecimentos condizentes com o tempo.

QUADRO 5: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 5 – Homens e um cavalo

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Cavalo.

Animal.

Meio de transporte da época.

Homens.

Comunidade.

Grupo religiosos de Ascurra.

Fonte: dados da pesquisa.

A segunda imagem selecionada é uma fotografia de acervo, com marcas do tempo como ranhuras no canto esquerdo. Ela está em preto e branco. A paisagem é de uma casa em meio à natureza, com uma ponte mais à frente. Nessa ponte há um grupo de pessoas, juntamente com um cavalo e uma carroça.

QUADRO 6: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 6 - Escola

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Prédio.

Escola.

As escolas eram de extrema importância para a época, sendo construídas logo após igrejas e moradias.

Mata.

Natureza.

As instituições eram fundadas em terras em processo de desenvolvimento, com muita área natural ainda por construir.

Cavalo.

Animal.

Meio de transporte da época.

Carroça.

Transporte.

Forma de transportar carga, geralmente acoplado a um animal de transporte.

Pessoas.

Estudantes.

Alunos das escolas paroquiais.

Fonte: dados da pesquisa.

A próxima imagem é uma fotografia de uma onça pintada enjaulada, em um tom gasto, preto e branco com alta exposição.

QUADRO 7: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 7 - Onça

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Onça.

Animal.

Dentre os desafios encontrados pelos imigrantes italianos, existia o risco de animais selvagens, dentre eles as onças pintadas, ou “Tighera”, no dialeto trentino.

Caixa de madeira.

Jaula.

Esses animais eram presos em grandes alçapões.

Fonte: dados da pesquisa.

A próxima imagem é uma fotografia antiga, em preto e branco, marcada pelo tempo e exposição ao sol.

QUADRO 8: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 8 – Fábrica

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Casa.

Propriedade.

Fábrica de arroz dos Mondini.

Homens.

Trabalhadores.

Trabalhadores na fábrica de arroz.

Fonte: dados da pesquisa.

Unidade 3 – História política e cultural de Ascurra

A unidade 3 traz um pouco do processo pelo qual Ascurra passou de um munícipio em desenvolvimento para um município com luxos, como ferrovias e cinemas. Dentro da unidade, por se tratar de um tempo um pouco mais atual, as imagens são fotográficas, trazendo uma visão fiel dos fatos retratados em cada capítulo. Uma mistura entre fotografias da época e fotos recentes dos objetos e monumentos ainda existentes conta um pouco mais sobre a história de Ascurra.

A imagem é um segmento de jornal digitalizado. Mesmo com as marcas do tempo, é possível ler o conteúdo linguístico, redigido inteiro em língua italiana.

QUADRO 9: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 9 - Jornal

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Jornal.

Papel.

Meio de comunicação impresso.

Fonte: dados da pesquisa.

O jornal tinha temas diversos, como religiosos e catequéticos, cotidiano agrícola e acontecimentos regionais e globais.

A imagem, a seguir, é uma fotografia em preto e branco. Em destaque, ao centro da imagem e em perspectiva, temos um trem na estação de Ascurra. Ao seu redor, dentro e fora, é possível distinguir seus diversos passageiros.

QUADRO 10: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 10 – Trem

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Trem.

Meio de transporte.

Principal atividade de transporte para fins comerciais e de passageiros.

Homens.

Pessoas.

Passageiros da primeira ferrovia do sul do país.

Fonte: dados da pesquisa.

A imagem, na sequência, é de acervo atual, porém tirada dentro de um contexto antigo.

QUADRO 11: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 11 – Projetores

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Máquinas.

Instrumento.

Máquinas de projeção do Cine-Rex, da primeira onda de cinemas do sul do país.

Fonte: dados da pesquisa.

A próxima imagem é atual, capturando o monumento ao imigrante, localizado em Ascurra.

QUADRO 12: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 12 – Monumento

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Monumento.

Edificação.

Construída com a finalidade de perpetuar a memória de pessoa ou acontecimento relevante na história de uma comunidade.

Fonte: dados da pesquisa.

Unidade 4 – Ascurra como um reflexo do mundo

A unidade 4 finaliza o livro com as calamidades que ocorreram em Ascurra com a chegada da Segunda Guerra, assim como, outras atrocidades cometidas dentro do município. Por fim, ela aborda um pouco do turismo na cidade, mostrando a atualidade do povo. Com a chegada dos tempos modernos, todos os capítulos são providos de imagens fotográficas cada vez mais atuais, às vezes em preto e branco, mas ao final dos capítulos temos algumas imagens recentes coloridas. Por meio disso, temos uma abordagem que mostra Ascurra como um reflexo de toda sua história.

A primeira imagem selecionada nessa unidade foi uma fotografia antiga em preto e branco, demonstrando um dos campos de concentração construídos no Brasil na época da Segunda Guerra Mundial.

QUADRO 13: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 13 – Campos na Segunda Guerra

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Homens.

Imigrantes.

Imigrantes recém-chegados ou suspeitos de espionagem, que iam para os campos de concentração onde sofriam diferentes tipos de tortura até sua morte.

Fonte: dados da pesquisa.

A imagem fotográfica a seguir, com marcas do tempo, retrata o manicômio chamado de “asilo de alienados”.

QUADRO 14: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 14 – Manicômio

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Casa.

Manicômio.

Asilo que “curava loucura” dos alienados nos municípios de Rodeio e Apiúna.

Fonte: dados da pesquisa.

A próxima imagem é um retrato fotográfico com marcas do tempo, com Palmira Dalmolin em destaque no centro da foto.

QUADRO 15: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 15 – Interna do Manicômio

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Mulher.

Interna.

Paciente do Manicômio de Alienados Oscar Schneider.

Fonte: dados da pesquisa.

A imagem a seguir é uma fotografia antiga, com o tom mais amarelado por conta do tempo, que mostra a enchente em Blumenau de 1911.

QUADRO 16: ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO

Figura 16 – Enchente

ICÔNICA

SIGNIFICADO DE PRIMEIRO NÍVEL

CONOTAÇÕES DE SEGUNDO NÍVEL

Casas.

Moradia.

Parte da comunidade próxima ao rio que era mais abalada pelas enchentes.

Água.

Inundação.

Enchentes por conta do Rio Itajaí-Açu.

Barco.

Meio de transporte.

Com as enchentes de Blumenau (município próximo), a locomoção era por meio de barcos.

Fonte: dados da pesquisa.

Análise e discussão dos resultados

Nesta seção trataremos das análises das imagens descritas. Como reafirma Joly ao citar Barthes: “a imagem tornou-se sinônimo de representação visual. A questão inaugural de Barthes – Como é que o sentido vem até às imagens?” (Joly, 2012, p. 41). Procuramos, então, as significações presentes nas imagens e os efeitos de sentido que elas teriam sobre os alunos da rede de ensino da cidade.

Unidade 1 – A origem do povoado de Ascurra – Já na primeira unidade, a análise linguística do próprio título nos leva a entender a valorização da ascendência italiana na região e como o legado europeu teria deixado marcas positivas em seus descendentes.

Coragem de cruzar os mares, espírito desbravador e patriotismo podem ser denotados numa das figuras. Numa das imagens apresenta-se também a precariedade que enfrentaram ao chegar à localidade e, ainda, os valores morais e tradicionais que se mantiveram mesmo em terras tão selvagens à época – no caso, a união e o casamento.

Unidade 2 – A religiosidade e a sobrevivência – Nesta unidade, os valores morais são reforçados, por meio de textos e imagens, com a vida em comunidade, a educação escolar, a coragem para enfrentar os novos desafios e o trabalho.

Unidade 3 – História política e cultural de Ascurra – Nesta seção, o LD procura trazer um quê de modernidade à história da cidade. Isso pode ser denotado na imagem do Jornal, transportes diminuindo distâncias geográficas e culturais, como o trem, e projetores de cinema como modernidade e proximidade com o mundo.

Na Unidade 4 – Ascurra como um reflexo do mundo, que encerra o LD, as imagens procuram denotar que os revezes sofridos na história do município estão de acordo com o contexto internacional, não sendo responsabilidade de seu povo ou possíveis falhas dele. É o que se pode denotar numa das imagens, com prisioneiros em campos a exemplo do que acontecia na Europa; os reclusos em manicômios, prática que foi mantida no Brasil até o final do século XX; ou as enchentes, que marcam a história do Brasil e ainda hoje assolam vários países, fruto das mudanças climáticas.

De uma forma geral, percebe-se, por meio das imagens analisadas, uma narrativa que constrói uma personalidade conservadora de seus antecedentes – corajosa, trabalhadora, religiosa, mantenedora das tradições e da família, capaz de enfrentar os mais árduos desafios e que, quando erra, o faz dentro de um contexto natural. Assim são representados os imigrantes e os líderes do município de uma forma geral.

Considerações finais

O presente artigo, a partir dos signos entre texto e imagem, analisou o livro didático História de Ascurra para a sala de aula. Para atingir o objetivo, foram selecionadas 16 imagens representativas, sendo quatro de cada uma das unidades da obra. As análises foram feitas por meio de um percurso teórico acerca da semiótica com foco na metodologia de Joly (2012).

Como principal resultado, podemos considerar que as imagens e textos estão em sincronia com o contexto apresentado no LD a partir da análise da metodologia de Joly (2012). Além de propor reflexões, o livro didático produzido pela Prefeitura Municipal cumpre com suas funções educativas relacionando texto e imagem e desperta o interesse para o estudo da história local. Cumpre ainda o papel que se espera de um LD destinado à primeira infância: enaltecer os que vieram antes e construíram o que se vê hoje. Não se espera que, nesse contexto, seja apresentada alguma dúvida ou crítica.

Analisar o livro promoveu uma reflexão da história do município sob o ponto de vista didático. As ideias surgidas durante a análises dos textos e imagens são suas diferentes possibilidades de trabalho educativo transmídia (Jenkins, 2009) nas quais seria possível trabalhar partes do conteúdo e adaptá-los para tecnologias acessíveis e produzir vídeos educativos, podcasts, fotografias ou até mesmo jogos de tabuleiro para memorização de conteúdo.

Referências

Dalmolin, G. (2022). História de Ascurra para a sala de aula. Livro didático [no prelo]. Prefeitura Municipal de Ascurra.

Ferrari, R. (2022). Prefeito de Ascurra sanciona Lei que instituí o ensino da lingua italiana em Ascurra. https://www.ascurra.sc.gov.br/noticias/ver/2022/11/prefeito-de-ascurra-sanciona-lei-que-institui-o-ensino-da-lingua-italiana-em-ascurra.

Freitas, N. K., & Rodrigues, M. H. (2019). O livro didático ao longo do tempo: a forma do conteúdo. DAPesquisa, Florianópolis, v. 3, n. 5, (pp. 300-307). https://www.revistas.udesc.br/index.php/dapesquisa/article/view/15378.

Fredella, C., & Zecca, L. (2020). Local history and identity building: a case study in the field of active citizenship education. Revista internacional de investigación e innovación educativa, n. 100, (pp. 88-102).

IBGE. (2022). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/ascurra/panorama.

Jenkins, H. (2009). Cultura da Convergência. ٢ª ed. São Paulo: Aleph.

Joly, M. (2012). Introdução à análise da imagem. 8ª ed. Campinas, SP: Papirus.

Santaella, L., & Nöth, W. (2013). Imagem: cognição, semiótica, mídia. 3. ed. São Paulo: Iluminuras.

Santaella, L. (2018). Semiótica aplicada. 2ª ed. São Paulo: Cengage Learning.