Comer na contemporaneidade: heterotopias alcoólicas, excessos do corpo e uma culinária indócil || Eat Nowadays: Alcoholic heterotopias, Body Excesses and an Indocile Culinary

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Michelle Cristine Medeiros-da Silva
Josimey Costa
http://orcid.org/0000-0003-2556-8180

Resumen

Comer na contemporaneidade, ainda que permeado por diversos fatores, guarda o científico como direcionamento hegemônico: um logos que compreende o bom corpo como o produto de uma saúde moralizada e racional, onde não há espaços para o que Georges Bataille denominou como dispêndios improdutivos. Aos dispêndios cabem a busca dos estados de excitação ilógicos, fora da razão e esgotamento do corpo. Portanto, para além de uma atitude de conservação da saúde, comer, como empreitada humana delineada em uma lei da economia geral, é também uma atividade do excesso. Esse é um dos temas de interesse em Em busca do tempo perdido (BTP). Analisar a imbricação entre o álcool e os excessos, a partir do texto BTP, foi o objetivo desta pesquisa. Para isso, foram realizadas leituras da obra e uma posterior sistematização em um arquivo digital que subsidiou a análise. Percebeu-se na Recherche o uso de uma variedade de bebidas alcoólicas: cervejas, conhaques, cidras, licores, mazagran, glória, vinhos tintos, espumantes, porto. Percebeu-se ainda que o álcool autoriza o acesso do corpo às heterotopias do desvio: os espaços de fora, que localizam indivíduos com comportamento desviantes em relação à norma. Notou-se na obra que o corpo vive a dilapidação do excesso: seja ao consumir o álcool em si, seja ao acessar as heterotopias, sobretudo nas cenas de sadomasoquismo. As práticas de consumo alimentar, como produto humano, guardam não só o nutritivo e a matéria-prima, mas a desnutrição e a excrescência, uma culinária indócil: a compreensão de que tudo que há de mais humano em cada um de nós, a violência, o sadismo, a criação, o amor, também habita um comer para uma gorda saúde. Quando uma culinária indócil promove a saúde deve compreendê-la como a aptidão do sujeito para criar aquilo que falta.

Although permeated by several factors, eating is a behaviour that have science as a hegemonic guide: a logo that understand a health body as the result of moralized and rational health care. In this view there are no place for what Georges Bataille called unproductive expenditures, that is, expenditures that look for illogical thrill states, out of reason, capable to lead the body to exhaustion. Therefore, beyond an attitude of health maintenance, eating is outlined as a human endeavour and, as such, is also an activity of excesses. This is one of the topics of interest in In Search of Lost Time (SLT). The main purpose of this research was analyse the link between alcohol and excessive behaviour in the book. To do so, the book was read and organized in a digital file that supported the analysis. In the book, many alcoholic beverages were used beer, cognac, cider, liquor, Mazagran, gloria, red, sparking and port wines. The alcohol allowed individuals to access their body, to access heterotopias of deviation: an outside space, for people with deviant behaviour. Body is degenerated by his excesses: due to alcohol consumption and accessing heterotopias, especially during sadomasochism scenes. Practices of food consumption, as a human product, keep not only the nutritious and raw materials, but innutrition and excrescence as the result of a indocile culinary, which is the idea that our most inhuman traits – violence, sadism, creation and love – are also part of an eating for great health. When a indocile culinary promotes health, it must understand it as the individual hability to create what is missing.

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Cómo citar
Medeiros-da Silva, M. C., & Costa, J. (2017). Comer na contemporaneidade: heterotopias alcoólicas, excessos do corpo e uma culinária indócil || Eat Nowadays: Alcoholic heterotopias, Body Excesses and an Indocile Culinary. Razón Y Palabra, 20(3_94), 190–206. Recuperado a partir de https://revistarazonypalabra.org/index.php/ryp/article/view/699
Sección
Monográfico

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