Gastronomia é cultura? Entendendo a proposta de incluir a gastronomia na Lei Rouanet, no Brasil, por meio da análise do discurso || Is Food Culture? Understanding the Proposal to Include Gastronomy in Rouanet Law, in Brazil, Through Discourse Analysis
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Resumen
O presente artigo tem como objetivo refletir sobre os sentidos propostos por dois artigos opinativos publicados em jornais de grande circulação no Brasil, um de autoria do chef Alex Atala e da nutricionista e apresentadora de TV Bela Gil (2014) e outro do sociólogo Carlos Alberto Dória (2014a). Os textos trazem visões opostas sobre o projeto de lei 6562, que visava incluir o termo “gastronomia” no texto da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet. Por meio do dispositivo analítico da análise do discurso de escola francesa, busca-se entender também a escolha da palavra “gastronomia” para encabeçar a discussão, no lugar de “alimentação” ou “comida”, que mostra o lugar de fala daqueles que pedem o reconhecimento estatal da prática e pode criar um contexto que leve o brasileiro a valorizar apenas a cozinha sofisticada e distintiva dos chefs, deixando de lado as produções culinárias populares. Os principais autores que apoiam essa discussão são Mikhail Bakhtin (2006), Maria Aparecida Baccega (2007), Eni Orlandi (1999), Álvaro Vieira Pinto (1979), Adam Schaff (1971) e Raymond Williams (2000, 2001, 2003).
This paper aims to discuss the meanings proposed by two opinion articles published in major newspapers in Brazil, one authored by chef Alex Atala and nutritionist and TV presenter Bela Gil (2014) and another from sociologist Carlos Alberto Dória (2014a). The articles have opposing views on the bill 6562, which aimed to include the word “gastronomy” in the text of the Federal Cultural Incentive Law, the Rouanet Law. Through the analytical device of the French School of Discourse Analysis, the paper also seeks to understand the word choice “gastronomy” to lead the discussion, rather than “food”, which shows the social place of those who ask for state recognition of this practice and can even create a context that takes Brazilians to value only the sophisticated and distinctive cuisine of chefs, leaving aside popular cooking. The main authors who support this discussion are Mikhail Bakhtin (2006), Maria Aparecida Baccega (2007), Eni Orlandi (1999), Álvaro Vieira Pinto (1979), Adam Schaff (1971) and Raymond Williams (2000, 2001, 2003).
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